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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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Realidade que é objetiva independentemente dele, possível de ser

reconhecida e com a qual se relaciona” (2007a, p. 62). Nesse contexto

delineia-se a compreensão de que o Homem, além de inacabado e consciente

do seu inacabamento, é também um ser de relações, cujas abrangências são

muito amplas e profundas. Segundo Freire, essas relações se estabelecem

com a realidade em seus múltiplos desdobramentos, pois “[...] não se dão

apenas com os outros, mas se dão no mundo, com o mundo e pelo mundo

[...]” (p. 30). E, destacando de modo especial a relevância das relações com

os outros, Freire acrescenta: “Mais ainda, a inconclusão que se reconhece a si

mesma implica necessariamente a inclusão do sujeito inacabado num

permanente processo social de busca” (2007b, p. 55).

Não obstante, a busca de superação da inconclusão objetive lapidar a

identidade particular de cada Ser Humano, sendo portanto, uma busca de si

mesmo, a advertência freiriana é de que “[...] ninguém pode buscar na

exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em

um ter mais, que é uma forma de ser menos” (FREIRE, 2007a, p. 28). Por essa

razão, segue-se a recomendação: “Esta busca deve ser feita com outros seres

que também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências,

caso contrário se faria de umas consciências objeto de outras consciências”

(p. 28). Aliás, é nas buscas feitas com os outros, nas práticas de ação-reflexão,

transcendendo as dimensões de espaço e de tempo, que os Homens acabam

dando sentido a tudo e, assim, configurando sua existência no mundo.

A necessidade de inter-relacionamento com os outros se apresenta,

portanto, como condição humanizadora do Homem, pois, como estabelece

Jaspers: “Eu sou na medida que os outros também são” (apud FREIRE, 2007,

p. 28). Enfim, as relações do Homem com os seus semelhantes se apresentam

como fundamentais para o processo da sua humanização, pois: “O ser

humano aprende a ser humano, aprendendo as significações que os outros

humanos dão à vida, à terra, ao amor, à opressão e à libertação” (FREIRE apud

BRANDÃO, 2001, p. 30).

O desafio da humanização requer, então, que os homens compartilhem

irrestritamente todos os bens com os seus semelhantes, incluindo, portanto, os

bens materiais que garantem a existência física, os bens políticos que

possibilitam a participação de todos na vida social e os bens simbólicos e

culturais que garantem a tomada de consciência de si e do mundo e o acesso à

uma existência digna. É nesse processo que o Homem manifesta, como diz

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