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HISTORICIDADE

Cheron Zanini Moretti

A primeira leitura que nos ocorre, sem procurar referências em Freire

para o termo historicidade, é de que se trata de uma qualidade do que é

histórico, ou seja, de que os fatos, os eventos, os acontecimentos, os sujeitos

não estão comprometidos com a objetividade da História, mas se colocam ou

poderão ser colocados a partir de uma perspectiva histórica. Assim, a

historicidade colocará a própria história nesta condição, se confundindo, às

vezes, com a/uma filosofia da história. Porém, conforme Certeau, “há uma

historicidade da história que implica o movimento que liga uma prática

interpretativa a uma práxis social” (LE GOFF, 1984, p. 159). Esta assertiva

parece estar presente no pensamento e na prática freiriana quando o educador

diz que a leitura de mundo antecede a leitura das palavras e, que “no fundo, o

educador (sic) que respeita a leitura de mundo do educando (sic), reconhece a

historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade” (FREIRE, 2000a, p.

139). No livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa (2000a) Paulo Freire considera que uma das bonitezas de nossa

maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a nossa

capacidade de conhecê-lo. Ainda, considera que, “histórico como nós, o

nosso conhecimento do mundo tem historicidade” (FREIRE, 2000a, p. 31).

Na medida em que vamos lendo e refletindo as propostas freirianas para

educação, em seus múltiplos e variados espaços de realização, observamos

que a sua proposta de método de alfabetização tem coerência a partir de uma

concepção problematizadora do tempo histórico e o espaço em que o

processo de ensino e de aprendizagem acontece. Este verbete está relacionado

a uma possível concepção de história freiriana. Ele a compreende em sua

dimensão continuada, processual e também transitória. Freire refuta a ideia de

um futuro inexorável, pois não nega a História. A História não existe sem o

tempo. Porém, para Paulo Freire, este tempo deve ser problematizado. O

passado como História é insuficiente, e o futuro, visto isoladamente, poderá

conduzir as pessoas “à negação autoritária do sonho, da utopia, da esperança”

(1996a, p. 81). Portanto, em vez de estabelecer uma lógica de que já se sabe

tudo sobre o futuro, de que ele está dado, nos sugere transformar o futuro

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