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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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mas criticamente atuem sobre a situação em que estão. (Freire, 1987, p.

101)

O surgimento do mundo para o homem tem a ver com sua própria ação de

atribuir significado ao que lhe aparece em sua experiência existencial. Por

isso, a experiência de compreensão tem início com a leitura do mundo que

antecede e conduz à leitura da palavra (FREIRE, 2008, p. 15). Assim, aprender

a ler o mundo torna-se condição para aprender a leitura da palavra. É somente

na linguagem que ser e pensar podem encontrar-se e se identificar.

Na perspectiva antropológico-filosófica de Freire, a condição existencial

do homem no mundo está estreitamente vinculada ao processo de

compreensão, que se realiza pela ação intencional de constituir unidades

temáticas significativas mediante o processo de “codificação” e

“descodificação” da realidade. Situado no mundo, relacionando-se com a

natureza, com os outros e consigo mesmo, o homem toma consciência da

realidade que o cerca e desenvolve, ao mesmo tempo, a consciência de si, a

autoconsciência. Sua relação com o mundo é a um só tempo familiar e

problemática. Familiar, porque o homem encontra-se em casa no seu mundo

linguístico; problemática, porque é exatamente nesse mundo que aflora o que

lhe é estranho e que ele busca compreender. O surgimento e o

desenvolvimento da consciência e do conhecimento têm assim um caráter

eminentemente histórico-existencial que vincula a vida ao mundo. Como

afirma Freire, “seria incompreensível se a consciência de minha presença no

mundo não significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção

da própria presença” (FREIRE, 1996, p. 19). Nesse sentido, a biografia aparece

como o elemento revelador do processo de compreensão na medida em que

expõe o significado da existência no mundo. Assim, tudo o que é

significativo, tudo o que o homem toca e tudo que toca ao homem – seu

corpo, suas emoções, seus desejos, seus atos, seus pensamentos – traz a

marca da historicidade. Por isso, um aspecto central na obra de Freire está

contido na tese de que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”

(FREIRE, 2008, p. 11). Aqui o círculo hermenêutico da compreensão se

explicita na relação autorreferencial que une o mundo à palavra e a palavra ao

mundo. Se, por um lado, a “leitura do mundo” torna-se a condição de

possibilidade da leitura da palavra, por outro lado, é a própria palavra que

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