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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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da negação do “agir pleno” da consciência livre diante do “agir inessencial”

da consciência escrava (HEGEL, 2000, p. 131):

Para a consciência de si há uma outra consciência de si [ou seja]: ela veio

para fora de si. Isso tem dupla significação: primeiro, ela se perdeu a si

mesma, pois se acha numa outra essência. Segundo, com isso ela

suprassumiu o Outro, pois não vê o Outro como essência, mas é a si

mesma que vê no outro. (Hegel, 2000, p. 126)

Outra aproximação importante pode ser encontrada na correlação entre o

conceito freiriano do “Ser Mais” – “vocação ontológica e histórica dos

homens” (FREIRE, 1987, p. 42) – e a ideia hegeliana do “Ser-para-Si” –

“determinação racional da idealidade” (HEGEL, 2005, p. 193). Afinal, ambos

representam o resultado de um longo processo no qual os sujeitos históricos,

avançando sobre a superficialidade da “consciência sensível” (Hegel) ou da

“consciência transitiva ingênua” (Freire), elevam-se à percepção do estágio

em que a “verdade da realidade, isto é, a realidade posta como é em si,

mostra-se ela mesma como uma idealidade” (HEGEL, 2005, p. 194):

Nestes caminhos de ida e volta é que se faz viável aos oprimidos assumirse

como “classe para si”, esperançosamente utópicos. A conscientização

[...] é, em última análise, a unidade dialética entre prática e teoria, em que

aprendemos que a verdadeira paciência não se identifica, jamais, com a

espera na pura espera. A verdadeira paciência, associada sempre a

autêntica esperança, caracteriza a atitude dos que sabem que, para fazer o

impossível, é preciso torná-lo possível. E a melhor maneira de tornar o

impossível possível é realizar o possível hoje. (Freire, 2006, p. 72)

Contudo, as convergências em debate não ocultam os demais

distanciamentos entre o filósofo clássico do idealismo alemão e o educador

libertário pernambucano. Autor voltado à práxis histórica de mulheres e

homens desafiados ao permanente “que-fazer” de suas existências cotidianas

(FREIRE, 1987, p. 30), Freire sempre divergiu da possibilidade de que algum

conhecimento pudesse atingir, a partir de “grandes passagens” sequenciais ao

longo da história, o “Saber Absoluto” ou “Conceituante” almejado por Hegel,

no qual a “verdade não é só em si perfeitamente igual à certeza, mas tem

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