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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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mobilização organizacional dos sujeitos pedagógicos: gestão colegiada,

administração dialógica, gestão participada, autogoverno da escola,

administração democrática, democratização e autonomia da escola são, entre

outros, exemplos de tais dimensões, umas vezes mobilizadas pelo autor,

outras vezes resultando de recepções e recontextualizações das suas propostas

ou, nos seus termos, de alongamentos do seu pensamento.

Em Freire, o problema da gestão democrática da educação é de ordem

político-administrativa e pedagógica, e não uma questão técnico-gerencial,

razão pela qual a simples busca da expressão “gestão democrática” em seus

escritos, de forma cirúrgica, se revela um procedimento metodológico

impróprio e, de resto, frustrante. É indispensável, para o seu estudo, conhecer

com um mínimo de amplitude o pensamento de Freire e não dispensar a

leitura atenta das suas primeiras obras, nas quais lança as bases da crítica ao

centralismo e à “educação bancária” enquanto expressões antidialógicas,

favorecedoras da passividade e da domesticação (FREIRE, 2001). Logo nos

seus primeiros trabalhos encontramos os pressupostos de uma democracia

radical e de uma cidadania crítica, à margem dos quais não é possível

compreender a sua concepção de educação democrática. E também conceitos

centrais, como o de “participação verdadeira” enquanto ato de “ingerência”,

de “ganhar voz” na decisão dos nossos próprios destinos, e não apenas como

colaboração, subordinada, na gerência dos outros, segundo orientações e

regras heterônomas.

É neste sentido que a gestão democrática, em Freire, representa uma

manifestação da “organização verdadeira”, isto é, um meio de libertação em

que os indivíduos são sujeitos do ato de organizar-se, contra dirigismos,

vanguardismos e práticas oligárquicas de organização (FREIRE, 1999, p. 145 e

p. 175-176). Tal processo representa ainda, na tradição dos teóricos da

democracia participativa, “um aprendizado existencial da democracia”

(FREIRE, 2001, p. 95), a aquisição de um “saber democrático” só possível

através do exercício da participação democrática no processo de decisão.

Discutir, argumentar, decidir, correr riscos são, entre outros, elementos

indispensáveis à “mudança da cara da escola” que propôs (FREIRE, 1991), isto

é, à sua reinvenção democrática, transformando-a num locus de cidadania

crítica e de produção colegial de orientações e de regras próprias, em direção

ao seu autogoverno.

Referências: FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991; FREIRE, Paulo.

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