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GESTÃO DEMOCRÁTICA

Licínio C. Lima

A problemática da gestão democrática da educação está presente na obra

de Paulo Freire desde os seus primeiros trabalhos, sendo incontornável

reconhecer os contributos originais que produziu, tanto em termos teóricos

quanto de política educacional. Existe, pois, um lugar para a gestão

democrática no conjunto da obra de Freire, podendo-se falar de uma

concepção freiriana de gestão democrática, ancorada nas críticas que

produziu às perspectivas mecanicistas, racionalistas e burocráticas de

educação, a todas as formas de organização meramente instrumental que

recusam a politicidade e a pedagogicidade da organização escolar, ao

burocratismo e ao “centralismo asfixiante” típicos da educação brasileira, na

esteira do pensamento de Anísio Teixeira.

Curiosamente, porém, a categoria “gestão democrática” não assume

grande protagonismo conceitual nem presença regular no seu universo teórico

e discursivo. Observe-se que é sobretudo após a sua experiência como

administrador público em São Paulo (1989-1991) que Freire utiliza a

expressão “gestão democrática”, a propósito das suas políticas e como uma

das suas prioridades na Secretaria Municipal de Educação, durante a gestão

da prefeita Luiza Erundina de Souza. Entre outros, os livros Política e

educação e À sombra desta mangueira (FREIRE, 1993; 1995) dão testemunho

do recurso à categoria “gestão democrática” para refletir sobre a reforma

educacional levada a cabo naquela cidade; desde a reforma da Secretaria

Municipal, onde Freire se viu forçado a “começar pelo começo” para intentar

“uma transformação radical da máquina burocrática” (FREIRE, 1991, p. 34),

descentralizar as decisões e democratizar os poderes educativos, até as suas

propostas de gestão democrática da “escola pública popular”, através da

efetivação dos conselhos de escola, em termos deliberativos, e da assunção de

maior autonomia por parte das escolas da rede municipal (ver os estudos de

TORRES; O´CADIZ; WONG, 2002 e LIMA, 2000). Nesse contexto, as propostas

de Freire, sustentadas numa abordagem crítica e antiautoritária de educação,

exprimem-se através de múltiplas categorias, que podem ser entendidas como

dimensões complementares, gravitando ao redor das suas concepções de

gestão democrática, de organização como prática da liberdade, de

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