Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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propõem a si mesmos como problema. Descobrem que pouco sabem desi, de seu “posto no cosmos”, e se inquietam por saber mais. Estará, aliás,no reconhecimento do seu pouco saber de si uma das razões destaprocura. Ao se instalarem na quase, senão trágica descoberta do seupouco saber de si, se fazem problema a eles mesmos. Indagam.Respondem, e suas respostas os levam a novas perguntas. (p. 29)A constatação desse processo de desumanização, que dialeticamente estáimbricado no processo de humanização, é desafio permanente para (naquele momento, Freire chamavade homens) gentes que se reconhecem inconclusas e são conscientes dessainconclusão.Essa energia que emana da palavra gente, faz de Freire um inventor desentidos produzidos com outras palavras, aproximando-o, em outro campoepistemológico, de Guimarães Rosa, o inventor de palavras, que adentroupelos grotões brasileiros e fez uma literatura sem fronteiras, inventando aspalavras que foram partejadas no regionalismo até então hermético, ganhandoo mundo, desvelando a dialeticidade local/universal.Na compreensão de Giroux (In: MCLAREN et al., 1998, p. 193), Freire temsido um intelectual construído “dentro da metáfora de desabrigados, entrezonas diferentes de diferenças teóricas e culturais; entre as fronteiras deculturas não-européias e européias”.Ainda, na página 194, Giroux afirma: É esse sentido de “desabrigado”,esse constante atravessar para o terreno dos outros, que caracteriza otrabalho e a vida de Freire. É como um exílio, um ser da fronteira, umintelectual localizado entre diferentes fronteiras culturais,epistemológicas e espaciais que Freire tem engajado sua própria políticade localização como um atravessador de fronteira.Freire encontra-se nessa fronteira, que é sempre cambiante, em umtempo-espaço cronos e kairós, que produz sentidos para gente, na procura denão desistir, reinventando a palavra gente para dizer:Gosto de ser gente, porque inacabado, sei que sou um ser condicionadomas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é

a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado. [...] Gosto deser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minhapresença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influênciadas forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o queherdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, temmuito a ver comigo mesmo. (1997, p. 53)A gentificação em Freire, pode configurar-se como um processo dehumanização, tal como explicita Vieira Pinto em seu livro Ciência eexistência (1969), ou ainda para viver as “situações-limites” em outro sentidoe direção que as dadas como intransponíveis. Para Vieira Pinto (1960, p.284), as “situações-limites” não são o “contorno infranqueável ondeterminam as possibilidades, mas a margem real onde começam todas aspossibilidades”; não são a “a fronteira entre o ser e o nada, mas a fronteiraentre o ser e o ser mais” (mais ser).Referências: FERREIRA HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário Aurélio da LínguaPortuguesa. 9. ed. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1986; FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997; FREIRE, Paulo. Pedagogiado oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; GIROUX, Henry. Paulo Freire e o póscolonialismo.In: MACLAREN, Peter et al. Paulo Freire: poder, desejo e memórias da libertação.Porto Alegre: Artmed, 1998; VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e existência: problemas filosóficos dapesquisa científica. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1969; VIEIRA PINTO, Álvaro. Consciência erealidade nacional. Rio de Janeiro: ISEB, 1960. VII.

a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado. [...] Gosto de

ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha

presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência

das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que

herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem

muito a ver comigo mesmo. (1997, p. 53)

A gentificação em Freire, pode configurar-se como um processo de

humanização, tal como explicita Vieira Pinto em seu livro Ciência e

existência (1969), ou ainda para viver as “situações-limites” em outro sentido

e direção que as dadas como intransponíveis. Para Vieira Pinto (1960, p.

284), as “situações-limites” não são o “contorno infranqueável onde

terminam as possibilidades, mas a margem real onde começam todas as

possibilidades”; não são a “a fronteira entre o ser e o nada, mas a fronteira

entre o ser e o ser mais” (mais ser).

Referências: FERREIRA HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa. 9. ed. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1986; FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:

saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997; FREIRE, Paulo. Pedagogia

do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; GIROUX, Henry. Paulo Freire e o póscolonialismo.

In: MACLAREN, Peter et al. Paulo Freire: poder, desejo e memórias da libertação.

Porto Alegre: Artmed, 1998; VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e existência: problemas filosóficos da

pesquisa científica. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1969; VIEIRA PINTO, Álvaro. Consciência e

realidade nacional. Rio de Janeiro: ISEB, 1960. VII.

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