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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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estática em movimento, desestabilizando-a. É o projeto feito ação

revolucionária que desmascara a sacralização da ordem social passada e

presente. Joga, ademais, o poder no banco dos réus, quando este se confronta

com o prumo da utopia, que confirmando que não precisava ter sido assim,

poderia ter sido outro. Ora, o poder político está em nós, para uma ação

revolucionária no presente à luz do futuro. Diz Freire: “O futuro não nos faz.

Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo” (FREIRE, 2000, p. 27). Essa

talvez seja a grande síntese do pensamento de Paulo Freire. Não teremos

modelos inspiradores nem esperança nem futuro sem práxis revolucionária.

A ideologia burguesa, naturalizando e sacralizando a ordem social,

desproblematiza o passado, só as pessoas possuem a chave de produção da

história e de si mesmas em diálogo com o próprio tempo. “Pensar o amanhã é

assim fazer profecia, mas o profeta não é um velho de barbas longas e

brancas, de olhos abertos e vivos, de cajado na mão, pouco preocupado com

suas vestes, discursando palavras alucinadas” (FREIRE, 2000, p. 51). O profeta

vive, vê, escuta e percebe no que intelige a fonte de sua curiosidade

epistemológica, diz Freire.

Atento aos sinais que procura compreender, apoiado na leitura do mundo

e das palavras, antigas e novas, à base de quanto e de como se expõe,

tornando-se assim cada vez mais uma presença no mundo à altura de seu

tempo, fala, quase adivinhando, na verdade, intuindo, do que pode

ocorrer nesta ou naquela dimensão da experiência histórico-social. (p.

51)

Nessa perspectiva, só existe futuro se pudermos compreender a nós e a

história como inacabados, inconclusos e, portanto, como demandando sua

problematização pelo pensado-e-vivido à luz do processo temporal, do

passado e do futuro, de que todo o presente é feito. Nasce, dessa forma, a

noção historiadora da luta pela libertação dos oprimidos em Freire. Cegados

por uma falsa visão da história, a direita “pretende ‘domesticar’ o presente

para que o futuro, na melhor das hipóteses, repita o presente ‘domesticado’”,

enquanto a esquerda transforma o futuro em algo pré-estabelecido, uma

espécie de fado, de sina ou de destino irremediáveis. Fecham-se – os

sectários – num “círculo de segurança” que a ambos aprisiona, estabelecem

sua verdade, diferente daquela dos homens na luta para construir o futuro,

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