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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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FENOMENOLOGIA

Luiz Augusto Passos

Paulo Freire, que realizou um grande diálogo com distintas correntes

teóricas, declarava seu ponto de partida: “Minha perspectiva é dialética e

fenomenológica.” E, justificava: “Eu acredito que daqui temos que olhar para

vencermos esse relacionamento oposto entre teoria e práxis superando o que

não deve ser feito num nível idealista” (FREIRE, apud TORRES, 1998, p. 82). O

casamento da dialética com a fenomenologia traria que consequências à

práxis da educação libertadora? Freire pretende com esse “casamento” pôr

em diálogo os pontos fortes de cada uma dessas correntes filosóficas. A

fenomenologia, no ponto de partida, sempre se declarou dialética nas suas

múltiplas tendências, mas, por vezes – e Merleau-Ponty apontava que –, no

desejo de chegar a sínteses, alguns filósofos acabaram descartando um dos

polos que se contrapunham e terminavam ficando só com o sujeito

(subjetividade) ou só com o objeto (objetividade), livrando-se da contradição

irresolvível entre eles. Freire não deixa qualquer dúvida: é preciso vencer o

divórcio entre o dito e o feito; o pensado e o vivido; o material e o imaterial.

Declara: “A minha compreensão das relações entre subjetividade e

objetividade, consciência e mundo, teoria e prática foi sempre dialética e não

mecânica. [...] Numa perspectiva não objetivista mecanicista, nem

subjetivista, mas dialética, mundo e consciência se dão, como disse Sartre,

simultaneamente. A consciência do mundo engendra a consciência de mim e

dos outros o mundo e com o mundo” (FREIRE, 2000, p. 41).

A corrente merleaupontyana, com a qual também Freire possui certa

afinidade, pretendia ser locus de interlocução entre outras epistemes.

Justamente por esse diálogo, Freire, simples e direto nas suas intervenções e

nos seus pensamentos, era considerado confuso ou eclético para intelectuais

dogmáticos. Se locomovia com tal liberdade e consistência por múltiplos

campos do conhecimento, irritando especialistas que tudo sabiam sobre

pouco. Freire, rigoroso no essencial, acerca da contribuição com a libertação,

não se deixava aprisionar por métodos, regras e etiquetas formais das ciências

e das academias, nem mesmo com a origem e proveniência dos pensamentos.

Corporeificava, na prática, a transdisciplinaridade quando ela ainda inexistia

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