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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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alegação de que a luta de classes é uma luta maior, acabaram por desvalorizar

as demais lutas, crendo que o patriarcado e o racismo são lutas menores e

mais específicas, referindo-se basicamente às mulheres e também aos negros.

Assim,

acreditaram excessivamente numa ilusão, qual seja, a de poder produzir

facilmente, uma vez abolidas a classes sociais, ou pelo menos reduzidas as

diferenças socioeconômicas entre seus membros, as democracias racial e

sexual. [...] Na verdade, esta crença não passa também de ilusão.

(Saffioti, 1987, p. 90-91)

Freire demonstrou compreender claramente essas fragilidades da luta de

classes.

Ainda podemos citar aspectos referentes à profissão do magistério,

desenvolvidas por Paulo Freire no livro Professora sim, tia não (1998). Em

uma das cartas publicadas nessa obra, Freire defende maior

profissionalização do magistério. Para isso, propõe um afastamento da

denominação de tia. Sobre essa temática, fazemos a seguinte leitura: essa

discussão traz uma contribuição ao processo de trabalho feminino, haja vista

o longo período histórico durante o qual as mulheres foram confinadas às

atividades e ao espaço doméstico. Reconhecer nas mulheres o papel de

trabalhadoras implica em identificar e admitir sua participação nos espaços

públicos, o que, durante muito tempo, não foi algo aceito socialmente. Até

porque o espaço público sempre foi identificado com a masculinidade, ou

seja, como sendo um espaço masculino, por isso pensado e planejado para os

homens. Portanto, um afastamento das professoras da denominação tias nada

mais representa do que sua afirmação profissional, dentro de um processo de

inclusão das mulheres no mundo do trabalho extra-lar e sua participação em

outros espaços e outros contextos.

Talvez a grande contribuição de Freire para o movimento feminista (e não

somente para esse movimento) seja – o que Ira Shor já apontou no livrodiálogo

– que a educação dialógica pode criar as condições para a

emancipação das mulheres, na superação das relações sociais sexistas. Sendo

assim, podemos concluir que o diálogo, inspirado num processo de

conscientização das pessoas, pode ser uma importante ferramenta para o

processo de libertação das mulheres, num movimento que inclua as escolas, e

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