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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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de exílio político – Paulo Freire demonstra surpresa e contentamento frente

ao contexto que encontrou em sua volta ao país. E, mais que isso, Freire

deixa nítido seu engajamento na luta contra o patriarcado. E é aí que aparece

mais nitidamente o reconhecimento pela luta das mulheres.

Como exemplo, partimos de uma situação concreta descrita por Shor, na

qual ele relata situações de discriminação a partir da linguagem, em que

afirma ter percebido silenciamentos de mulheres em suas aulas, quando os

homens costumam interromper as mulheres e que as mesmas raramente

fazem isso. E, geralmente, cedem seu espaço de oratória para os homens.

Enfim, Shor, com esse exemplo, apresenta aspectos do sexismo na própria

natureza do discurso que se manifesta nas salas de aula americanas. Na

sequência da conversa com Shor e partindo de sua “provocação”, Freire

aparenta certa ingenuidade ao comentar que não percebe em seu cotidiano

como professor situações de discriminação por gênero em sala de aula. No

entanto, Freire afirma que o país é machista e que é preciso que se lute contra

essas formas de dominação no cotidiano e não esperar que a superação do

capitalismo gere, por si só, novas relações. Portanto, Freire admite que não

basta a superação do capitalismo para que se supere as desigualdades de

gênero, pois não basta o socialismo para isso. Entendemos, por isso, que o

sexismo não será superado automaticamente numa sociedade socialista.

Na trajetória da experiência concreta do socialismo soviético, as mulheres

comunistas se viram às voltas com o poder comunista masculino. A trajetória

política de Alexandra Kolontai demonstra bem esse aspecto, pois ela

enfrentou o desafio de tentar convencer seus companheiros revolucionários

de que fazem parte da revolução mudanças na vida privada, no amor, no

relacionamento afetivo e sexual, para além das mudanças econômicas. Na

obra já referida de Andrea Nye (1995), há um relato detalhado dessa

trajetória de luta de Kolontai com as lideranças masculinas da Revolução

Russa. Também na introdução feita por Tatau Godinho da edição da obra de

Kolontai, A nova mulher e a moral sexual, da editora Expressão Popular

(2005), aparece a luta da autora frente aos companheiros socialistas. Muitos

movimentos na esquerda política não admitiram a luta contra o patriarcado e

contra o racismo com a mesma importância que a luta de classes e acabaram

por privilegiar essa última. Embora tenham admitido as questões étnicas e de

gênero, acreditaram que, abolindo-se as classes sociais, chegar-se-ia à

igualdade racial e das categorias de sexo. Esses grupos políticos, sob a

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