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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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em que o ser humano, além de racional, é um animal político, é na pólis que

ele encontrará possibilidade de ser feliz – na convivência social.

Silva (2007) procura verificar como se apresenta historicamente o

conceito de felicidade e o encontra sempre associado a questões relacionadas

à moralidade. Depois de trazer alguns exemplos de reconstrução da ética na

atualidade, diz que “não seria possível afirmar que o desfecho do drama

histórico da humanidade será a felicidade”, mas percebe que aqueles

exemplos indicam que “a busca e a expectativa constituem uma herança que

provavelmente nunca será abandonada” (SILVA, 2007, p. 93) .

Do ponto de vista ético, a felicidade é sinônimo do “bem comum”, que se

apresenta como o horizonte da vida em sociedade, das relações entre

indivíduos e grupos (RIOS, 2001). A vida boa, vivida com dignidade, no

exercício pleno de direitos, de acordo com os princípios do respeito, da

justiça, da solidariedade, que levam ao diálogo, é o que buscam os homens,

na sua “vocação ontológica de ser mais”, a que se refere Freire. Liberdade,

alegria, diálogo, esperança (ver verbetes) são conceitos que trazem com eles

o de felicidade, ou a ele se reportam.

Qual o sentido da educação se ela não colaborar para a construção da

felicidade? Os conceitos de “felicidade” e “cidadania” se aproximam, na

medida em que se reportam à possibilidade de viver bem em companhia, de

“pronunciar o mundo” junto com os outros, sendo por eles reconhecidos e os

reconhecendo, num movimento sempre dialógico. “Felicidade” rima com

“cidadania”: embora do ponto de vista linguístico dir-se-ia que é uma “rima

errada”, do ponto de vista histórico-social é rima mais que adequada, diria

Freire. “Cidadania”, no sentido progressista em que é utilizado por Freire,

entendida como exercício de todos os direitos – civis, políticos, sociais –,

significa participação efetiva na vida social, possibilidade de vida digna. Vida

boa para todos implica a inclusão dos excluídos, a superação dos

preconceitos e discriminações, a criação do espaço para as diferenças e a

negação das desigualdades. “A felicidade, desejada pelos sujeitos individuais,

transforma-se em direito à felicidade, quando é integrado à intenção política e

universalista da democracia”, afirma Misrahi (1997, p. 222). Pode-se

compreender, então, a perspectiva de felicidade articulada à ideia da

democracia, entendida por Freire como algo ser buscado efetivamente pelos

indivíduos e grupos na sociedade.

A compreensão de felicidade como sinônimo do bem comum, conduz à

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