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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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igrejas não podem refugiar-se numa pretensa neutralidade, mas assumir o seu

papel profético de denúncia e de anúncio. A Páscoa – a morte e a ressurreição

– precisa ser existenciada na concretude da vida e da história.

Consequentemente a Igreja precisa ser “andarilha, viajeira constante,

morrendo sempre e sempre renascendo” (FREIRE, 1977b, p. 126). Na obra de

Paulo Freire a teologia, como reflexão crítica da fé, aparece como elemento

constitutivo de sua reflexão pedagógica, ao lado da filosofia, da história e de

outras disciplinas. Cristo, como “verdade encarnada”, é para Freire um

exemplo de pedagogo na medida em que nele método e conteúdo se fundem

(STRECK, 2005).

Outro lado dessa mesma fé é a fé no ser humano. Ela consta na

Pedagogia do oprimido entre as pré-condições para o diálogo, ao lado do

amor, da humildade e da criticidade, que busca “o pensar certo”. Este a priori

do diálogo é assim descrito: “Não há também, diálogo, se não há uma intensa

fé nos homens (sic!). Fé no seu poder de fazer e refazer. De criar e recriar. Fé

na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito

dos homens” (FREIRE, 1981, p. 95). Essa fé, no entanto, não é uma fé ingênua,

uma vez que a consciência crítica faz ver que a capacidade criativa de

homens e mulheres foi “prejudicada” pelas condições da opressão. A

alienação também não será superada por algum tipo de concessão, mas

conquistada nas lutas de libertação.

Como revolucionário, Freire compartilha com Rousseau a crença na

capacidade de refazer o seu mundo, que o ser humano traz consigo ao nascer.

Mas, ao contrário deste, sabe que não existe uma volta ao paraíso perdido

(STRECK, 2002). Mulheres e homens são seres históricos e sua natureza não

existe fora de situações concretas. Daí a impossibilidade de saída através da

educação negativa, conforme Rousseau, preservando o educando do contato

com o mundo corrompido. Para Freire o mundo real é o lócus da educação, o

ponto de partida e o ponto de chegada como um lugar mais humanizado.

Também o educando é a criança, o jovem ou adulto real, que vive no

cotidiano as contradições da sociedade. A aposta da fé é que esse ser humano

tem possibilidade de transcender e emergir com uma nova consciência e

compromisso.

Referências: ANDREOLA, B. A.; RIBEIRO, M. B. Andarilho da esperança: Paulo Freire no CMI.

São Paulo: ASTE, 2005; FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire: uma história de vida. São Paulo:

Villa de Letras, 2005; FREIRE, Paulo. Eu, Paulo Freire. In: A mensagem de Paulo Freire: teoria e

prática da liberdade. Porto: Nova Editora, 1977a. p. 15-18; FREIRE, Paulo. O papel educativo das

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