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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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FÉ (Cristã/no ser humano)

Danilo R. Streck

Paulo Freire se autodefiniu como um homem de fé. “Não me sinto um

homem religioso, mas sim um homem de fé. [...] Posso dizer até

enfaticamente, que vivo uma fé sem religiosidade” (apud FREIRE, 2005, p.

594). A fé tem para Freire um sentido daquilo que condiciona o ser humano

em última instância, no sentido que lhe é atribuída pelo teólogo Paul Tillich,

e que por isso não precisa necessariamente se expressar em termos religiosos.

A esperança, a utopia e a amorosidade que perpassam a sua obra são

expressão dessa fé que aqui será abordada sob dois aspectos: no que respeita

sua filiação religiosa e na sua postura diante do ser humano.

O fato de não se entender como um homem religioso não significa que

Freire negava ou estava alheio às manifestações históricas da espiritualidade.

Conforme ele, “eu não tenho porque negar, porque seria uma hipocrisia, seria

uma covardia, seria uma traição, negar, por exemplo, a minha convivência

com os ideais cristãos” (apud FREIRE, 2005, p. 594). O pai de Paulo Freire era

membro de círculos espíritas, e a mãe, católica romana. Segundo Freire, com

o respeito mútuo pelas crenças entre pai e mãe, ele aprendeu a respeitar as

opções dos demais e a importância do diálogo. Foi dentro deste clima de

tolerância que Freire optou pela religião da mãe. Em sua juventude sentiu a

enorme distância que havia entre o evangelho anunciado e a prática de

cristãos, o que motivou um distanciamento da Igreja. As leituras de Tristão

de Atayde auxiliam a descobrir um cristianismo ativo e através da Ação

Católica será “empurrado” para os mangues e favelas do Recife (FREIRE,

1977a). Embora a motivação cristã possa ser detectada em toda a reflexão

freiriana, é em sua atuação no Conselho Mundial de Igrejas, na década de

1970, que alguns enunciados teológicos são explicitados, sempre em conexão

com a pedagogia (ANDREOLA; RIBEIRO, 2005).

Freire identifica-se com o movimento da Teologia da Libertação (o livro

homólogo de Gustavo Gutierrez foi publicado em 1971, um ano após a

Pedagogia do oprimido), que tem como premissa que o reino Deus irrompe

na história humana através de Jesus Cristo e convoca seus discípulos à

vivência e à promoção dessa nova realidade. Nesse sentido, diz Freire, as

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