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FATALISMO/FATALIDADEJaime José ZitkoskiA partir do diálogo entre as perspectivas filosóficas da dialética e dafenomenologia existencial, Freire concebe uma proposta antropológicainovadora, que destaca o processo de humanização a partir de uma revoluçãocultural. Nessa direção, o pensamento freiriano é radicalmente contra todasas visões e/ou posturas fatalistas diante da compreensão da existênciahumana no mundo.Já na Pedagogia do oprimido ele fala de um pensar crítico que secontrapõe ao pensar ingênuo e de uma teoria da ação dialógica que éesperança de superação da teoria da ação antidialógica, infelizmente maishegemônica em nosso mundo. Mas é na Pedagogia da esperança que Freireexplicita, de forma muito clara e precisa, a diferença de fundo entre concebera história da humanidade como possibilidade, ou reproduzir concepçõesfatalistas no modo de olhar para a realidade que nos cerca e nos desafiaquotidianamente. Nessa perspectiva, a crítica freiriana às visões fatalistas demundo tem como ponto de partida a própria concepção de ser humano, queimplica uma forma de pensar nossa existência em sua concretude histórica,com os limites e o potencial de realização de cada pessoa em sua vocaçãopara ser mais.Abordando sobre as condições do diálogo verdadeiro, na perspectiva deuma educação dialógico-libertadora, Freire (1993) concebe, como uma dascondições indispensáveis para a humanização da vida em sociedade, o pensarcerto, ou o pensar crítico, que busca superar os níveis da consciência ingênua.A partir de suas próprias palavras, podemos notar a importância daperspectiva dialética para uma educação humanizadora, pois o pensar críticodialético,diferentemente de uma visão fatalista,[...] é um pensar que percebe a realidade como processo, que a capta emconstante devenir e não como algo estático. Não se dicotomiza a simesmo na ação. “Banha-se” permanentemente de temporalidade cujos

riscos não teme. (p. 82)Na Pedagogia da esperança, Freire retoma a Pedagogia do oprimido e,de modo sempre original e profundo, reforça o pensar crítico sobre o modode conceber o mundo, a história humana e nossa existência contextualizadasempre a partir de um ethos cultural específico da época e lugar em que nosencontramos no mundo.Ao conceber a história como possibilidade, Freire (1994) resgata aimportância do sonho e da utopia na concretude da existência humana, que sefaz e refaz constantemente a partir de um mundo social e historicamente jáconstruído. A busca do ser mais, a consciência da inconclusão e oconhecimento de que é um ser condicionado, mas não determinado, fazem doser humano uma ‘criatura’ especial no mundo, pois, diferentemente de todosos demais seres, “nós tomamos nosso destino nas mãos” (FREIRE, 1997).O pensar crítico e a consciência da forma de ser no mundo, segundoFreire (1994), convergem para um modo coerente de conceber a história que,refutando veementemente os fatalismos e/ou determinismos, confere àespécie humana a capacidade e a responsabilidade de definir, por si mesma, opróprio futuro para si e para o mundo. Nesse sentido, Freire (1994) explicitasua crítica a toda e qualquer forma de fatalismo, tanto de direita quanto de“esquerda”:Essa visão “domesticada” do futuro, de que participam reacionários e“revolucionários”, naturalmente cada um e cada uma a sua maneira,coloca, para os primeiros, o futuro como repetição do presente que deve,porém, sofrer mudanças adverbiais e, para os segundos, o futuro como“progresso inexorável”. Ambas estas visões implicam uma inteligênciafatalista da história, em que não há lugar para a esperança autêntica. (p.101)O resgate da importância do sonho, da esperança e da utopia é o caminhopara a compreensão da história e da condição humana no mundo de formaprofundamente dialética e libertadora. Nesse sentido, Freire reforça o valordo sonho e de uma educação da esperança conquanto característicasintrínsecas à própria natureza humana, que vai se fazendo a si mesma na

FATALISMO/FATALIDADE

Jaime José Zitkoski

A partir do diálogo entre as perspectivas filosóficas da dialética e da

fenomenologia existencial, Freire concebe uma proposta antropológica

inovadora, que destaca o processo de humanização a partir de uma revolução

cultural. Nessa direção, o pensamento freiriano é radicalmente contra todas

as visões e/ou posturas fatalistas diante da compreensão da existência

humana no mundo.

Já na Pedagogia do oprimido ele fala de um pensar crítico que se

contrapõe ao pensar ingênuo e de uma teoria da ação dialógica que é

esperança de superação da teoria da ação antidialógica, infelizmente mais

hegemônica em nosso mundo. Mas é na Pedagogia da esperança que Freire

explicita, de forma muito clara e precisa, a diferença de fundo entre conceber

a história da humanidade como possibilidade, ou reproduzir concepções

fatalistas no modo de olhar para a realidade que nos cerca e nos desafia

quotidianamente. Nessa perspectiva, a crítica freiriana às visões fatalistas de

mundo tem como ponto de partida a própria concepção de ser humano, que

implica uma forma de pensar nossa existência em sua concretude histórica,

com os limites e o potencial de realização de cada pessoa em sua vocação

para ser mais.

Abordando sobre as condições do diálogo verdadeiro, na perspectiva de

uma educação dialógico-libertadora, Freire (1993) concebe, como uma das

condições indispensáveis para a humanização da vida em sociedade, o pensar

certo, ou o pensar crítico, que busca superar os níveis da consciência ingênua.

A partir de suas próprias palavras, podemos notar a importância da

perspectiva dialética para uma educação humanizadora, pois o pensar críticodialético,

diferentemente de uma visão fatalista,

[...] é um pensar que percebe a realidade como processo, que a capta em

constante devenir e não como algo estático. Não se dicotomiza a si

mesmo na ação. “Banha-se” permanentemente de temporalidade cujos

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