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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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Falar de comunicação, para Freire, é partir de uma obviedade: “O homem

é um ser de relações”; portanto, “o mundo social e humano, não existiria

como tal se não fosse um mundo de comunicabilidade fora do qual é

impossível dar-se o conhecimento humano” (p. 65). Para Freire, então, o

mundo humano é um mundo de comunicação. É pela intersubjetividade que

se estabelece a comunicação entre os sujeitos. Isso explica que, estudando as

três relações constitutivas do conhecimento, a gnosiológica, a lógica e a

histórica, Freire se apropria de uma quarta, fundamental, introduzida por

Eduardo Nicol, indispensável ao ato do conhecimento, que é a relação

dialógica.

Portanto, a comunicação é diálogo, e o diálogo é comunicativo. Isso

significa que na comunicação não há sujeitos passivos, e sim coparticipação e

reciprocidade. O diálogo é uma condição fundamental para a humanização.

Em outras palavras, o diálogo não invade, não objetiviza, não enche o outro

de conteúdos.

Dessa maneira, Freire chega a sua síntese fundamental sobre a relação

entre educação e comunicação: “A educação é comunicação, é diálogo, na

medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos

interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREIRE, 1971,

p. 69). Assim é respondida a pergunta do ensaio: Extensão ou comunicação?

Respondamos negativamente a extensão e afirmativamente à comunicação.

Em Educação como prática da liberdade, Freire destaca como a vocação

natural da pessoa é a de ser sujeito, e não objeto, e denuncia que tem

resistências em defender um modelo de educação que respeite “no homem a

sua vocação de ser sujeito” (1989, p. 36).

Em Pedagogia da autonomia Freire desenvolve a ideia de que ensinar

não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção; não há docência sem discência, quem ensina

aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao apreender (1999, p. 23).

Em Pedagogia do oprimido Freire aprofunda nas características da ação

dialógica: a “co-laboração”, a união, a organização e a síntese cultural (1997,

p. 165ss). Nessa obra postula o diálogo como uma exigência existencial. Sem

ele não há comunicação, e sem esta não há verdadeira educação, sublinha

Freire.

A compreensão da “comunicação como diálogo” tem seu referencial mais

próximo no Eu-Tu de Buber, mas o enfoque tende a ser de pessoa para pessoa

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