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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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relendo a si próprio. Dessa forma aproximou-se do caminho teórico de

Habermas (1988), para quem o paradigma da comunicação voltada ao

entendimento é central no conceito de “razão comunicativa”. Habermas eleva

ao nível de dignidade epistemológica a ação ou práxis da comunicação

cotidiana do dia a dia, “os atos de fala”. È identificável a proximidade da

categoria “mundo da vida”, do pensamento habermasiano, com a categoria

“experiência”, do pensamento freiriano. Aproximam-se pela definição

conceitual e pelo significado estruturante que ambas têm no pensamento

desses autores. A Teoria da Ação Comunicativa de Habermas se ocupa de

demonstrar que as estruturas simbólicas do “mundo da vida” são

reproduzidas por meio de interações coordenadas pela linguagem para

produzir consensos fundamentados argumentativamente cuja força motiva as

ações dos sujeitos. Habermas (1988) vê relação entre o saber teórico e a

práxis vital livre e emancipada. Freire e Habermas coincidem ao definirem a

“práxis livre e emancipada” como uma “experiência de ação” que deriva de

outros momentos da atividade humana: a teoria sempre tem ligação com a

práxis vital e tem uma determinada práxis como consequência, a práxis

emancipatória, em palavras de Habermas (1988), ou a pratica para a

liberdade, em palavras de Freire (1976). O sentido e o significado da

“experiência” no pensamento freiriano é também comparável ao significado

dialético, na sua forma racional, que Marx (1998) confere à pesquisa quando

diz que a investigação precisa “apoderar-se dos pormenores da vida do

contexto pesquisado, analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e

perquirir a conexão íntima que há entre elas” para perspectivar, tendo o

mundo como palco, de acordo com seu caráter transitório, as formas em que

se configura o devir (p. 28-9).

A obra de Freire, por ele identificada como prática reflexiva, “práxis”,

sintetiza sua reflexão sobre a própria experiência e tem servido como

fundamento teórico e como inspiração para outras tantas reflexões em

diversas partes do mundo e na perspectiva de inúmeros intelectuais.

Referências: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São

Paulo: Cortez, 1982; FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade: e outros escritos. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1976; FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979;

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970; HABERMAS, Jürgen.

Teoria de la acción comunicativa, II. Crítica de la razón funcionalista. Madrid: Taurus, 1988. Título

original: Theorie dês kommunikativen Handelns. Band II. Zur Kritik der funktionalistischen Vernunft.

Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1981; MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política.

Livro I, v. 1. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

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