Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
exigência existencial, situação existencial, situação existencial concreta,experiência existencial, situação existencial codificada. Para salientar aimportância extrema do procedimento metodológico da “codificação” e da“descodificação”, ligadas essencialmente às situações e experiênciasexistenciais dos alfabetizandos ou dos educandos em geral, cabe citartambém o livro Educação como prática da liberdade (1999). Na página 117Freire escreve: “Para a introdução do conceito de cultura, ao mesmo tempognosiológica e antropológica, elaboramos, após a ‘redução’ deste conceito atraços fundamentais, dez situações existenciais ‘codificadas’, capazes dedesafiar os grupos e levá-los pela sua ‘descodificação’ a estascompreensões”. Em Apêndice àquele livro (p. 131), como introdução àsdiscussões sobre o conceito antropológico de cultura, Freire escreve: “Por nosterem tomado os originais do pintor Francisco Brenand, que expressavam assituações existenciais para a discussão do conceito de cultura, solicitamos aVicente de Abreu, outro pintor brasileiro, hoje também no exílio, que asrefizesse. Seus quadros não são uma cópia de Brenand, ainda que hajanecessariamente repetido a temática”. Os quadros dos dois artistas citadostestemunham a grande importância que Freire atribuia à arte para a educação,uma arte nascendo da experiência existencial e histórica do povo. O Paulodesejou muito reaver aqueles quadros. Um dia, folheando o Courrier del’UNESCO (junho/1980), descobri que se encontram em Londres, no “Centerfor Open Learning and Teaching”. Quem os recolheu como materialsubversivo, os vendeu a preço de libras esterlinas. O resgate dos quadros doBrenand representaria certamente, para Freire, em sua nova condiçãoexistencial, e para todos nós, uma indizível emoção.Referências: ANDREOLA, B. Antonio. Horizontes hermenêuticos da obra de Paulo Freire.Boletim bibliográfico, Porto Alegre: Faculdade de Educação da UFRGS, v. 10, n. 1, p. 83-102, 1985;FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999; FREIRE,Paulo. Pedagogia do oprimido. 46. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007; GADOTTI, Moacir et al. PauloFreire – uma biobibliografia. São Paulo: Cortez, 1996; TORRES, Carlos Alberto. Leitura crítica dePaulo Freire. São Paulo: Loyola. 1981.
EXPERIÊNCIARosane Kreusburg MolinaA Teoria do Conhecimento, construída por Paulo Freire, pode serprofundamente entendida se contextualizada onde surgiu: no Nordestebrasileiro, nos anos 1960, onde e quando milhares de pessoas eramanalfabetas e viviam na “cultura do silêncio”. Foi participando dessaexperiência, entre e com esses sujeitos, pensando e repensando sua prática,que Freire inicia seu “método de alfabetização”, expressão máxima de suaaposta na educação como instrumento capaz de proporcionar, aos homens eàs mulheres, intervenções críticas nos seus contextos de existência social eindividual. A aposta de Freire nos processos educativos como possibilidadede mudança social está fundada em princípios filosófico-antropológicos epropõe, pelo exercício da reflexão, encontrar, na natureza humana, o núcleoque sustenta o processo de educação: “qual seria este núcleo captável a partirde nossa própria experiência existencial?” (FREIRE, 1979, p. 27). Experiência,assim como utopia, diálogo e esperança, são categorias estruturantes da obrade Freire, que pode ser sintetizada como uma perspectiva de leitura e deinserção no mundo concreto. Em A importância do ato de ler: em três artigosque se completam (1982), a experiência dos educandos e dos educadores estáfortemente referenciada como locus das relações dinâmicas que vinculamlinguagem e realidade no exercício da compreensão do contexto da prática,que, por sua vez, pelo “exercício da leitura”, pode ser ampliada (p. 66).“Conhecer mais pelo ato de ler” é, para Freire, um princípio educativorevolucionário e “prática concreta de libertação e de construção da história”(p. 8).Experiência é para o pensamento freiriano mais que uma categoria deanálise. Foi documentando e relatando suas experiências em educação queFreire produziu sua obra e imprimiu nela sua profunda convicção de que “aleitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo” (FREIRE, 1970).Ler e escrever, para Freire, são práticas e experiências que ocorrem nummesmo tempo porque entende que o “ato de conhecer” ocorre em tempos eespaços indissociáveis do saber.Assim, Freire escreveu sua obra lendo outros autores, os reescrevendo e
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experiência existencial, situação existencial codificada. Para salientar a
importância extrema do procedimento metodológico da “codificação” e da
“descodificação”, ligadas essencialmente às situações e experiências
existenciais dos alfabetizandos ou dos educandos em geral, cabe citar
também o livro Educação como prática da liberdade (1999). Na página 117
Freire escreve: “Para a introdução do conceito de cultura, ao mesmo tempo
gnosiológica e antropológica, elaboramos, após a ‘redução’ deste conceito a
traços fundamentais, dez situações existenciais ‘codificadas’, capazes de
desafiar os grupos e levá-los pela sua ‘descodificação’ a estas
compreensões”. Em Apêndice àquele livro (p. 131), como introdução às
discussões sobre o conceito antropológico de cultura, Freire escreve: “Por nos
terem tomado os originais do pintor Francisco Brenand, que expressavam as
situações existenciais para a discussão do conceito de cultura, solicitamos a
Vicente de Abreu, outro pintor brasileiro, hoje também no exílio, que as
refizesse. Seus quadros não são uma cópia de Brenand, ainda que haja
necessariamente repetido a temática”. Os quadros dos dois artistas citados
testemunham a grande importância que Freire atribuia à arte para a educação,
uma arte nascendo da experiência existencial e histórica do povo. O Paulo
desejou muito reaver aqueles quadros. Um dia, folheando o Courrier de
l’UNESCO (junho/1980), descobri que se encontram em Londres, no “Center
for Open Learning and Teaching”. Quem os recolheu como material
subversivo, os vendeu a preço de libras esterlinas. O resgate dos quadros do
Brenand representaria certamente, para Freire, em sua nova condição
existencial, e para todos nós, uma indizível emoção.
Referências: ANDREOLA, B. Antonio. Horizontes hermenêuticos da obra de Paulo Freire.
Boletim bibliográfico, Porto Alegre: Faculdade de Educação da UFRGS, v. 10, n. 1, p. 83-102, 1985;
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999; FREIRE,
Paulo. Pedagogia do oprimido. 46. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007; GADOTTI, Moacir et al. Paulo
Freire – uma biobibliografia. São Paulo: Cortez, 1996; TORRES, Carlos Alberto. Leitura crítica de
Paulo Freire. São Paulo: Loyola. 1981.