30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EXISTÊNCIA

Balduino Andreola

Questionado por Carlos Alberto Torres (1981) sobre sua linha teórica,

Freire se definiu na perspectiva da fenomenologia e da dialética. Não tanto,

certamente, da fenomenologia transcendental e idealista de Husserl, quanto

da fenomenologia existencial ou do existencialismo fenomenológico de

Sartre, Jaspers, Merleau-Ponty, Marcel, Heidegger e Berdiaeff, como também

do personalismo, ou do existencialismo personalista de Mounier. Outro

estudioso que qualifica “o pensamento de Paulo Freire como produto

existencial” é Moacir Gadotti (1996, p. 70). Como da dialética freiriana se

afirmou já que não pode ser reduzida nem à dialética idealista de Hegel, nem

à materialista de Marx, embora com fortes influências de ambos, também a

perspectiva existencial de Freire não pode ser reduzida a nenhuma das

influências citadas. A obra dele só pode ser entendida e interpretada a partir

da dramaticidade de sua existência pessoal, de sua experiência concreta da

pobreza e da fome, e de sua comunhão histórica com os pobres, os famintos,

os esfarrapados do mundo, os oprimidos do Brasil, da América Latina e do

mundo, como expresso por mim, há mais de vinte anos, num artigo intitulado

“Horizontes hermenêuticos da obra de Freire” (ANDREOLA, 1985). Freire se

refere com frequência à contradição da dualidade existencial do oprimido,

reduzido a hospedeiro do opressor. Sua obra foi, toda ela, vivida, falada e

escrita em diálogo e coautoria com os sujeitos históricos, os oprimidos, os

“condenados da terra” (Fanon). Uma análise do discurso das obras de Freire

nos poderia dar, até em termos quantitativos, uma ideia da semântica

existencial e existencialista de seus escritos. Como curiosidade e como

desafio para uma análise mais profunda e uma releitura de Freire numa ótica

existencialista, trarei apenas uma amostra extraída de dois livros dele. O mais

rico nesta linguagem existencial é o clássico de Freire Pedagogia do

oprimido (2007). No cap. 3, ao tratar dos temas geradores (p. 100), Freire

escreve: “Será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o

conjunto de aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo

programático da educação ou da ação política”. No mesmo capítulo e no cap.

4, o tema da existência aparece numerosas vezes, em expressões como:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!