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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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Na segunda metade da década de 1970, período em que o conceito

exclusão social começa a ser colocado na ordem do dia, Paulo Freire

encontra-se estabelecido na Suíça e desenvolve programas especiais em

diversos países do Terceiro Mundo. Nas décadas de 1980 e 1990, quando o

termo penetra decisivamente nos debates sociais brasileiros, Freire retorna ao

Brasil, vive o ambiente acadêmico, participa da administração de São Paulo e

publica inúmeras obras, individuais e dialogadas. Se tivesse aceitado o

discurso já hegemônico do propalado novo paradigma social, cuja proposta é

de contraposição ao modelo de classes e às mobilizações via movimentos

sociais no campo das relações produtivas, privilegiando, ao contrário, as

estratégias políticas de integração dos excluídos, Freire certamente teria

incorporado o conceito a seus escritos. Não é isso, entretanto, o que ocorre.

Ao longo de toda a extensa produção freiriana não há qualquer discurso

digno de nota referenciado no suposto novo paradigma social da exclusão

social (Cf. GHIGGI; OLIVEIRA, 2007, p. 23-25).

Assim como a exclusão social, que não aponta para a transformação

revolucionária da sociedade, mas para a inclusão no sistema, também a

marginalidade faz lembrar mais a integração do que a libertação. Pois,

referindo-se à marginalidade, Freire, em primeiro lugar, alerta que assumindo

a condição de “marginalizados, ‘seres fora de’ ou ‘à margem de’, a solução

para eles estaria em que fossem ‘integrados’, ‘incorporados’ à sociedade”

(FREIRE, 2002, p. 61). Entretanto, jamais estiveram verdadeiramente fora. Ao

contrário, foram sempre parte do sistema de opressão e desumanização “que

os transforma em ‘seres para outro’. Sua solução, pois, não está em ‘integrarse’,

em ‘incorporar-se’ a esta estrutura que oprime, mas em transformá-la

para que possam fazer-se ‘seres para si’” (FREIRE, 2002, p. 61). Duas

observações importantes de Freire sobre a marginalidade podem também

aplicar-se ao conceito exclusão social. Se há marginalizados, não é por opção.

Assim, os marginalizados seriam vítimas de uma violência que os expulsa do

sistema. Na verdade, são violentados, porém estão sempre “dentro da

realidade social, como grupos ou classes dominadas, em relação de

dependência com a classe dominante” (FREIRE, 1979, p. 47). Vê-se, portanto,

que Freire jamais abre mão de recolocar o problema nos marcos da sociedade

de classe.

É nesse contexto, chamando a atenção para a violência e para a

desumanização próprias da sociedade de classe, que Freire refere-se ao

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