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ESTÉTICAMarita Martins RedinPaulo Freire foi um verdadeiro representante do que poderíamos chamarde “educador estético”. Ele foi um “inventador” de palavras e, mais do queisso, um defensor das utopias, dos sonhos e da estética contida no ato deaprender e ensinar. Não existe na sua obra algo específico sobre a temática daestética, mas com certeza toda ela é perpassada pela dimensão humana da“boniteza”, da criação. O que seria uma atitude, uma perspectiva estética paraFreire? Em primeiro lugar, ele não separa a estética da ética, dizendo que “anecessária promoção da ingenuidade “à criticidade não pode ou não deve serfeita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado da estética” (FREIRE,1999, p. 36). Longe de pensar em uma ação alienada ou alienante, aperspectiva freiriana concebe a estética como um espaço de liberdade deescolha, de intervenção crítica e consciente de homens e mulheres no mundo,ações calcadas na capacidade de valoração, de intervenção, de decisão erompimento de tudo o que não favorece a humanização. Fala o autor:Tenho certeza de que uma das doenças mais trágicas de nossassociedades é a burocratização da mente. Se você vai mais além dospadrões previamente estabelecidos, considerados como inevitáveis, vocêperde a credibilidade. No entanto, não há criatividade sem ruptura, semum rompimento com o passado, sem um conflito no qual é preciso tomaruma decisão. Eu diria que não há existência humana sem ruptura. (Freire;Horton, 2005, p. 62)Portanto, a estética, como forma sensível de estar no mundo, implica oenvolvimento consciente com a realidade, na presença humanizante em todosos espaços que favorecem a vida. Essa “estesia” contrapõe-se à “anestesia”(DUARTE JR., 2001), que seria, para Freire, uma consciência ingênua, aalienação, ou uma impotência frente à realidade. Dessa maneira a estéticapode estar presente em todos os processos de conhecimento, e não somentenas atividades consideradas arte. A multiplicidade de linguagensexperienciadas esteticamente, o sentido e o significado do ser/estar e agir no

mundo são dimensões que perpassam as obras de Paulo Freire.Logo, é fundamental recorrer a novos paradigmas de natureza estética,que considerem os acontecimentos, as cenas perturbadas pelas incertezas, osarranjos e rearranjos do tempo e do espaço, as narrativas, as práticas muitasvezes contraditórias, que estão carregadas de sentidos. Porque não estamossós, estamos sempre lidando com o diferente, com o outro, mas também como outro instituído, formatado, que faz calar e que se coloca como únicaverdade. Para reinventar a democracia é necessário priorizar a existência nasua boniteza, na sua inteireza, o que muitas vezes foge dos domínios dalógica. Para Freire (1992, p. 18)Um acontecimento, um fato, um feito, uma canção, um gesto, um poema,um livro se acham sempre envolvidos em densas tramas, tocadas pormúltiplas razões de ser de que algumas estão mais próximas do ocorridoou do criado, de que outras são mais visíveis enquanto razão de ser. Porisso a mim me interessou sempre muito mais a compreensão do processoem que e como as coisas se dão do que o produto em si. (p. 18)Nesse fragmento podemos constatar que Freire ressalta o valor daexperiência/sentido, do processo, dos acontecimentos para uma compreensãodo humano para outras possibilidades, para uma dimensão estética, a partir daexperiência/sentido, em todos os espaços educativos. Um sujeito estéticopensa a si próprio e é, ao mesmo tempo, pensado pelos outros. É sujeitoprocessual, porque vive em sociedade que também se faz e se refazconstantemente. Somos sujeitos estéticos na medida em que nos abrimos paranovas possibilidades, novas práticas sociais, desfazendo-nos de referênciascristalizadas. É necessário dar-se conta da esteticidade dessa sociedade,desbarrancando os antigos padrões de beleza, de harmonia, de linearidade ebuscando nos microespaços, no cotidiano, nas frestas, as possíveis relaçõesde sentido. É necessário buscar essa nova ética-estética nas frestas dasociedade atual.É neste sentido que a práxis criativa e a estética, conjugadas com a ética,fazem parte dos ideários freirianos.Paulo Freire pode nos ajudar na busca de novos paradigmas culturais,educacionais sob o olhar da estesia e de experiência estética no cotidiano doespaço escolar e sua especificidade. A escola, como espaço de vida para as

mundo são dimensões que perpassam as obras de Paulo Freire.

Logo, é fundamental recorrer a novos paradigmas de natureza estética,

que considerem os acontecimentos, as cenas perturbadas pelas incertezas, os

arranjos e rearranjos do tempo e do espaço, as narrativas, as práticas muitas

vezes contraditórias, que estão carregadas de sentidos. Porque não estamos

sós, estamos sempre lidando com o diferente, com o outro, mas também com

o outro instituído, formatado, que faz calar e que se coloca como única

verdade. Para reinventar a democracia é necessário priorizar a existência na

sua boniteza, na sua inteireza, o que muitas vezes foge dos domínios da

lógica. Para Freire (1992, p. 18)

Um acontecimento, um fato, um feito, uma canção, um gesto, um poema,

um livro se acham sempre envolvidos em densas tramas, tocadas por

múltiplas razões de ser de que algumas estão mais próximas do ocorrido

ou do criado, de que outras são mais visíveis enquanto razão de ser. Por

isso a mim me interessou sempre muito mais a compreensão do processo

em que e como as coisas se dão do que o produto em si. (p. 18)

Nesse fragmento podemos constatar que Freire ressalta o valor da

experiência/sentido, do processo, dos acontecimentos para uma compreensão

do humano para outras possibilidades, para uma dimensão estética, a partir da

experiência/sentido, em todos os espaços educativos. Um sujeito estético

pensa a si próprio e é, ao mesmo tempo, pensado pelos outros. É sujeito

processual, porque vive em sociedade que também se faz e se refaz

constantemente. Somos sujeitos estéticos na medida em que nos abrimos para

novas possibilidades, novas práticas sociais, desfazendo-nos de referências

cristalizadas. É necessário dar-se conta da esteticidade dessa sociedade,

desbarrancando os antigos padrões de beleza, de harmonia, de linearidade e

buscando nos microespaços, no cotidiano, nas frestas, as possíveis relações

de sentido. É necessário buscar essa nova ética-estética nas frestas da

sociedade atual.

É neste sentido que a práxis criativa e a estética, conjugadas com a ética,

fazem parte dos ideários freirianos.

Paulo Freire pode nos ajudar na busca de novos paradigmas culturais,

educacionais sob o olhar da estesia e de experiência estética no cotidiano do

espaço escolar e sua especificidade. A escola, como espaço de vida para as

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