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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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sustentação aos fios que se ligam para compor a existência individual, a

história e a própria prática educativa. Freire está se debatendo com as teorias

pós-modernas (do fim das meta-narrativas, do fim da história, do fim do

sujeito) e se situa numa posição que identifica como “posmodernamente

progressista”, dando a entender que a afirmação da esperança precisa ser

contextualizada na história. Sua obra mesma é um exemplo de reinvenção

dentro de novas condições, desde a experiência de alfabetização em Angicos

até o desafio da administração municipal em São Paulo como Secretário de

Educação.

Em Pedagogia da autonomia (1996, p. 80), por seu turno, Freire associa

esperança e alegria como exigências do ensinar. Homens e mulheres, como

seres da esperança, estão diante da possibilidade de criar outro futuro. Nesse

sentido, a mesma esperança que busca a alegria também provoca “raiva”

diante das condições que negam o ser mais inscrito na natureza da pessoa.

Um autor que teve grande influência sobre os movimentos de contestação

dos anos 1960, nos quais Freire também se inspira e aos quais está associado,

é Ernst Bloch em cuja obra se encontra o livro O princípio esperança (três

volumes publicados entre 1954 e 1959). Segundo Bloch, o homem e o mundo

não são seres perfeitos; ambos pertencem ao “ainda não” e o homem apenas

percebe fragmentos do futuro através de suas ações concretas. Pierre Furter

vê nessa esperança a base para o pensamento utópico na educação (FURTER,

1966). Entre outras obras fundantes sobre o tema, destaca-se ainda a Teologia

da esperança (1964) de Juergen Moltmann, que influenciou o movimento da

Teologia da Libertação e foi fonte de inspiração para Rubem Alves, que

intitula a sua tese de doutorado A theology of human hope (1969), publicada

no Brasil como Da esperança (1987). A esperança se torna uma presença

viva, experienciada como a antecipação de uma promessa que já começou a

ser cumprida.

Paulo Freire integra a esperança não apenas em seus escritos

pedagógicos. Ela faz parte de seu ser no mundo e alimenta a sua busca e as

suas lutas, seja entre os camponeses nordestinos, com estudantes

universitários, seja na gestão pública. A esperança baseada na ação impede

tanto a acomodação pragmática à realidade quanto a fuga para idealismos

incapazes de interferir na história.

Referências: ALVES. Rubem. Da esperança. Campinas: Papirus, 1987; BLOCH, Ernst. O

princípio esperança. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005; FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:

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