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ESPERANÇA

Danilo R. Streck

Esperança é uma categoria central na obra de Freire, ligada com outros

conceitos como utopia, inédito viável ou sonho possível. Já na Pedagogia do

oprimido (1981, p. 97) a esperança se faz presente como condição para o

diálogo, junto com o amor, a humildade, a fé nos homens e nas mulheres. A

confiança se instaura no diálogo que, por sua vez, é movido pela esperança.

O diálogo em busca do ser mais não pode ocorrer na desesperança. Nas

palavras de Freire: “Não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar.

Movo-me na esperança enquanto luto e se luto com esperança, espero”

(FREIRE, 1981, p. 97).

A esperança se torna o tema–título de um de seus livros (Pedagogia da

esperança, 1992), escrito num período tensionado por avanços democráticos

e por uma desilusão com utopias. Por um lado, a Constituição Federal do

Brasil aprovada em 1988 garantia importantes espaços de participação

popular, e governos progressistas começavam a implantar políticas públicas

inovadoras, como o Orçamento Participativo em Porto Alegre (1989). Por

outro lado, a queda do muro de Berlim (1989) simbolizava a crise de

alternativas em termos de projeto de sociedade.

A esperança é para Freire “necessidade ontológica”, um “imperativo

excepcional e histórico” (FREIRE, 1992, p. 10). A desesperança, por seu turno,

é esperança que perdeu o rumo. Cabe, por conseguinte, não uma educação

para a esperança. O papel do educador e da educadora é cuidar para que a

esperança não se desvie e não se perca, caindo ou na desesperança ou no

desespero. Em sendo um imperativo histórico, a esperança se manifesta na

prática. Não há esperança na “pura espera”, isto é, na imobilidade e na

paralisia. Se a meta é a criação de um amanhã diferente, sua construção tem

que ser iniciada hoje. Da mesma forma, nem toda esperança é igualmente

geradora de uma realidade distinta. A crítica é o seu elemento purificador.

Para Freire, a esperança crítica é tão necessária para o ser humano quanto a

água despoluída para a vida do peixe.

Em Pedagogia da esperança, a esperança se afirma num contexto de

análise perpassado pela metáfora da trama. Tem-se a impressão que ela dá

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