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ESCUTAR

Ana Maria Saul

Saber escutar é um dos saberes necessários à prática educativa,

apresentados por Paulo Freire no livro Pedagogia da autonomia (1997).

Trata-se de uma escuta que vai além da capacidade auditiva e difere da pura

cordialidade.

Para compreender melhor esse conceito, é importante analisá-lo na

perspectiva relacional da obra freiriana, com especial destaque para a

Pedagogia do oprimido (1978).

Saber escutar é condição para o desenvolvimento de uma prática

educativa democrática. Na medida em que aprendemos a escutar, paciente e

criticamente, o educando, afirma Freire, podemos passar a falar com ele e

não falar para ele, como se fôssemos detentores da verdade a ser transmitida.

Nessa perspectiva, saber escutar requer que se aprenda a escutar o diferente.

Diz Freire: “valorizar o diferente de nós é absolutamente fundamental

para o exercício da autonomia [...] a professora que fecha seus ouvidos à dor,

à indecisão, à angústia, à curiosidade do diferente, mata no diferente a

possibilidade de ser” (FREIRE, 1997).

A escuta é também, para Freire, requisito para o diálogo e para a

compreensão do conhecimento que o educando traz para a situação de

ensino-aprendizagem, possibilitando, ao educador, conhecer e trabalhar a

partir da leitura de mundo do educando. Saber escutar é, portanto, uma

prática que se imbrica, necessariamente, na construção do conhecimento

crítico-emancipador. É importante lembrar, com Freire, que a prática do saber

escutar implica necessariamente posturas que vão requerer do educador

novos aprendizados: humildade, amorosidade aos educandos e tolerância.

A partir de sua experiência ao lado de Paulo Freire, na PUC/SP, Saul

(1999) relata que a escuta esteve sempre presente na prática do mestre,

constituindo-se em procedimento essencial para a sua didática na sala de aula.

Paulo Freire, diz ela, fazia questão de iniciar as aulas ouvindo as práticas e os

interesses de pesquisa dos alunos; os seus sonhos. Trabalhando com as

propostas/temáticas apresentadas pelos alunos, mesmo que essas não

estivessem suficientemente claras, Freire buscava encontrar os eixos centrais

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