Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
Uma das iniciativas mais radicais postas em prática por Freire e suaequipe na Secretaria de Educação foi o projeto Escola Cidadã. Através desseprojeto, Freire continuou suas propostas de educação popular, mas nocontexto da escola pública e em relação às reformas na gestão escolar,planejamento pedagógico, organização curricular e avaliação escolar. Emrealidade, a Escola Cidadã tem, em seu processo histórico, as raízes e ospressupostos da educação popular que surgiu na América Latina no calor daslutas populares em meados do século XX (CUSTÓDIO, 2008). Nesse sentido,Gadotti (1999) nota que a educação popular passou por diversos momentos,desde a busca pela conscientização, nos anos 50 e 60, e a defesa da escolapública popular comunitária, nos anos 70 e 80, até a escola cidadã na ultimadécada do século XX. Freire tinha em mente a Escola Cidadã como aquelaque promove o exercício da cidadania por todos que dela participam.A Escola Cidadã é aquela que se assume como um centro de direitos e dedeveres. O que a caracteriza é a formação para a cidadania. A EscolaCidadã, então, é a escola que viabiliza a cidadania de quem está nela e dequem vem a ela. Ela não pode ser uma escola cidadã em si e para si. Ela écidadã na medida mesma em que se exercita na construção da cidadaniade quem usa o seu espaço. A Escola Cidadã é uma escola coerente com aliberdade. É coerente com o seu discurso formador, libertador. É todaescola que, brigando para ser ela mesma, luta para que os educandoseducadorestambém sejam eles mesmos. E, como ninguém pode ser só, aEscola Cidadã é uma escola de comunidade, de companheirismo. É umaescola de produção comum do saber e da liberdade. É uma escola quevive a experiência tensa da democracia’ (Freire, 2000 apud Gadotti, 2002).No projeto da Escola Cidadã, Freire propôs um movimento de reformacurricular baseado na interdisciplinaridade e numa abordagem participativada produção de conhecimento que usava temas geradores relacionados comsituações reais e questões relevantes para os educandos e suas comunidades.O projeto de reforma curricular foi complementado por uma iniciativaabrangente no sistema para substituir o modelo autoritário de educaçãoexistente por relações mais dialógicas na sala de aula e formas de gestão maisdemocráticas, incluindo parcerias com grupos locais e com pais com vistas a
processos de decisão participativos em termos de planejamento, realização ealocação de recursos. Esse sistema aberto estava voltado a aumentar aautonomia da escola e a responsabilidade da comunidade, garantir maiortransparência e sustentatibilidade das reformas educacionais e permitir queescolas e governo tivessem a oportunidade de elaborar políticas educacionaisjuntos.Nem sempre foi fácil pôr essas ideias em prática. Uma das iniciativasmais controvertidas do projeto Escola Cidadã foi uma reforma em termos degestão que propunha, entre outras coisas, dar mais poder aos conselhosescolas locais, realizar eleições para diretor e vice-diretor (com pais ecrianças compondo 50% dos votos e professores e funcionários os outros50%), permitir apenas uma reeleição (o que significava que osadministradores deveriam retornar à sala de aula depois de quatro anos) eforçar os professores a aceitar apenas um emprego de tempo integral. Essaproposta foi rejeitada, e Freire argumentou que a derrota não se devia aomérito da proposta, mas à da longa tradição corporativista e aoconservadorismo político do sistema educacional do município.Nesse curto período, o projeto Escola Cidadã de São Paulo teve algumasimportantes conquistas. A partir da Secretaria da Educação, Freire introduziuuma estrutura mais democrática e descentralizada para a supervisão escolar, oserviço técnico e de apoio, bem como um novo modelo de formação emserviço para professores. Esse serviço consistia na oferta e na facilitação dereuniões (grupos de desenvolvimento profissional), nas quais os professorespoderiam refletir sobre seu conhecimento e sua ação pedagógica, explorarteorias educacionais e desenvolver habilidades, num processo coletivo econtínuo (GADOTTI, 1999, 2000; AZEVEDO, 2000, PADILHA, 2001). O processofoi interrompido em 1992, quando a coalizão progressista perdeu as eleiçõesmunicipais. No entanto, sua contribuição mais importante foi abrir o caminhopara que outros projetos de Escola Cidadã pudessem emergir e ganhar força,não apenas em São Paulo, mas também em outras partes do Brasil e domundo.Referências: AZEVEDO, José Clóvis. Escola Cidadã: desafios, diálogos e travessias. Petrópolis:Vozes, 2000; Custódio, Maria do Carmo. Escola cidadã: algumas reflexões sobre a democratização daescola pública. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2008; FreirE, Paulo. Escola Cidada, entrevista feitapela TV Educativa do Rio de Janeiro, 7 mar. 1997; FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo:Cortez, 2001; Gadotti, Moacir. Escola Cidadã. 11. ed. Coleção Questões da Nossa Época, v. 24. SãoPaulo: Cortez, 2006; Gadotti, Moacir. Caminhos e significados da educação popular em diferentes
- Page 225 and 226: DIZER A SUA PALAVRAFabio da Purific
- Page 227 and 228: geradores.Referências: FREIRE, Pau
- Page 229 and 230: la, não são caminhos de libertaç
- Page 231 and 232: interdependência fundamental de to
- Page 233 and 234: II. A vida da Vida. 3. ed. Traduç
- Page 235 and 236: imperativo existencial e histórico
- Page 237 and 238: EDUCAÇÃO BANCÁRIA/EDUCAÇÃOPROB
- Page 239 and 240: Para Freire (1996, p. 28), a educa
- Page 241 and 242: participativo e comunitário.A educ
- Page 243 and 244: EDUCAÇÃO E INFÂNCIAEuclides Redi
- Page 245 and 246: entretê-la no exercício de tarefa
- Page 247 and 248: experiências da Nicarágua e de Cu
- Page 249 and 250: EDUCAÇÃO PROFISSIONALSilvia Maria
- Page 251 and 252: ele, a educação profissional deve
- Page 253 and 254: discência, as duas se implicam e e
- Page 255 and 256: Freire, ao destacar o fato que o
- Page 257 and 258: A educação, sozinha, não tem con
- Page 259 and 260: EMPODERAMENTOPedrinho GuareschiConc
- Page 261 and 262: ENGAJAMENTOBalduino AndreolaFoi-me
- Page 263 and 264: Freire. São Paulo: Vozes, 2006; MO
- Page 265 and 266: concepção libertadora da educaç
- Page 267 and 268: não pensei em política, num outro
- Page 269 and 270: objetivo, e situar-se nesse mundo;
- Page 271 and 272: revelar; mas, o que aqui é dito j
- Page 273 and 274: das periferias, dos cidadãos que s
- Page 275: ESCOLA CIDADÃDaniel SchugurenskyEm
- Page 279 and 280: ESCREVER/ESCRITARemí KleinJá na o
- Page 281 and 282: ITERRA, 2001; BRANDÃO, Carlos Rodr
- Page 283 and 284: e os “fios comuns” entre as dif
- Page 285 and 286: sustentação aos fios que se ligam
- Page 287 and 288: ESPONTANEÍSMOConceição PaludoAin
- Page 289 and 290: ESTADOLucineide Barros MedeirosNa o
- Page 291 and 292: Paz e Terra, 1992; FREIRE, Paulo. P
- Page 293 and 294: mundo são dimensões que perpassam
- Page 295 and 296: ÉTICASérgio Trombetta e Luis Carl
- Page 297 and 298: Não é possível pensar os seres h
- Page 299 and 300: Na segunda metade da década de 197
- Page 301 and 302: EXÍLIOJevdet RexhepiExilado: pesso
- Page 303 and 304: EXISTÊNCIABalduino AndreolaQuestio
- Page 305 and 306: EXPERIÊNCIARosane Kreusburg Molina
- Page 308 and 309: EXTENSÃOMaria Stela GracianiO conc
- Page 310 and 311: EXTENSÃO/COMUNICAÇÃOHernando Vac
- Page 312 and 313: “ao passo que Freire se orienta p
- Page 314 and 315: nossa opinião, sem nunca esquecer
- Page 316 and 317: FATALISMO/FATALIDADEJaime José Zit
- Page 318 and 319: história:Fazendo-se e refazendo-se
- Page 320 and 321: igrejas não podem refugiar-se numa
- Page 322 and 323: FELICIDADETerezinha Azerêdo RiosQu
- Page 324 and 325: afirmação de que não se pode ser
Uma das iniciativas mais radicais postas em prática por Freire e sua
equipe na Secretaria de Educação foi o projeto Escola Cidadã. Através desse
projeto, Freire continuou suas propostas de educação popular, mas no
contexto da escola pública e em relação às reformas na gestão escolar,
planejamento pedagógico, organização curricular e avaliação escolar. Em
realidade, a Escola Cidadã tem, em seu processo histórico, as raízes e os
pressupostos da educação popular que surgiu na América Latina no calor das
lutas populares em meados do século XX (CUSTÓDIO, 2008). Nesse sentido,
Gadotti (1999) nota que a educação popular passou por diversos momentos,
desde a busca pela conscientização, nos anos 50 e 60, e a defesa da escola
pública popular comunitária, nos anos 70 e 80, até a escola cidadã na ultima
década do século XX. Freire tinha em mente a Escola Cidadã como aquela
que promove o exercício da cidadania por todos que dela participam.
A Escola Cidadã é aquela que se assume como um centro de direitos e de
deveres. O que a caracteriza é a formação para a cidadania. A Escola
Cidadã, então, é a escola que viabiliza a cidadania de quem está nela e de
quem vem a ela. Ela não pode ser uma escola cidadã em si e para si. Ela é
cidadã na medida mesma em que se exercita na construção da cidadania
de quem usa o seu espaço. A Escola Cidadã é uma escola coerente com a
liberdade. É coerente com o seu discurso formador, libertador. É toda
escola que, brigando para ser ela mesma, luta para que os educandoseducadores
também sejam eles mesmos. E, como ninguém pode ser só, a
Escola Cidadã é uma escola de comunidade, de companheirismo. É uma
escola de produção comum do saber e da liberdade. É uma escola que
vive a experiência tensa da democracia’ (Freire, 2000 apud Gadotti, 2002).
No projeto da Escola Cidadã, Freire propôs um movimento de reforma
curricular baseado na interdisciplinaridade e numa abordagem participativa
da produção de conhecimento que usava temas geradores relacionados com
situações reais e questões relevantes para os educandos e suas comunidades.
O projeto de reforma curricular foi complementado por uma iniciativa
abrangente no sistema para substituir o modelo autoritário de educação
existente por relações mais dialógicas na sala de aula e formas de gestão mais
democráticas, incluindo parcerias com grupos locais e com pais com vistas a