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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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de professor progressista não é apenas o de ensinar matemática ou biologia

mas sim, tratando a temática que é, de um lado objeto de meu ensino, de

outro, da aprendizagem do aluno, ajudá-lo a reconhecer-se como arquiteto de

sua própria prática cognoscitiva” (1997, p. 140).

Para que a pedagogia de Freire realize sua epistemologia, ela deve

prolongar o processo interativo, dialógico, e não opor-se a ele. “É ensinando

matemática que ensino também como aprender e como ensinar, como exercer

a curiosidade epistemológica indispensável à produção do conhecimento”

(1997, p. 142). Diríamos, hoje, que a pedagogia deve dar continuidade ao

processo de construção do sujeito epistêmico, de suas capacidades, e não se

perder em conteudismos sem horizonte. Além disso, a pedagogia freiriana –

do oprimido, da esperança ou da autonomia – é ativa por coerência com sua

epistemologia; atividade de sujeito autônomo que pratica a liberdade e por

isso é capaz de reinventar sua própria existência. “Por isso mesmo é que, no

processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se

apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por

isto mesmo, reinventá-lo [...]” (1977, p. 27-28).

A capacidade cognitiva humana assim concebida gera a pergunta, a

curiosidade, a ação exitosa (prática), a ação refletida (práxis), o diálogo, a

liberdade, a autonomia, a transcendência, a utopia, a aprendizagem

transformadora, a totalidade. Ela cria horizontes em que é possível inventar e

criar o novo; em que não se é condenado a repetir o antigo; em que se faz

história. “Daí que insisto tanto na problematização do futuro e recuse sua

inexorabilidade” (1997, p. 59). A pedagogia que faz repercutir essa

epistemologia é a da busca, da indagação, da conscientização, da fala, da

pergunta, da escuta, do diálogo, da transformação, da reflexão da prática, do

pensamento autônomo, da ousadia do novo. Encontra-se no extremo oposto

do autoritarismo. “A impressão que tenho é a de que [...] o educador

autoritário tem mais medo da resposta do que da pergunta. Teme a pergunta

pela resposta que deve dar” (FREIRE; FAUNDEZ, 1985, p. 47). O exercício da

pergunta, pelo professor e, sobretudo, pelos alunos, sinaliza um exercício

cognitivo, de liberdade, coerente com a pedagogia e a epistemologia de

Freire: “Creio, por outro lado, que a repressão à pergunta é uma dimensão

apenas da repressão maior – a repressão ao ser inteiro, à sua expressividade

em suas relações no mundo e com o mundo” (FREIRE; FAUNDES, 1985, p. 47).

A epistemologia de Freire é muito mais rica do que este texto é capaz de

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