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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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concepção libertadora da educação, considerando que ensinar e aprender

fazem parte de um processo maior: o de conhecer, no qual educadores e

educandos, mediatizados pelo mundo, são sujeitos mutuamente implicados.

A despeito de eventuais distorções de seu pensamento, Paulo Freire

afirma claramente que “O professor deve ensinar. É preciso fazê-lo. Só que

ensinar não é transmitir conhecimento” (1993a, p. 118). Para

aprofundamento da concepção freiriana no âmbito das diferentes abordagens

do ensino, é relevante consultar Ensino: as abordagens do processo

(MIZUKAMI, 1986). Sobre a explicitação do autor a respeito de sua concepção

interacionista dos processos de ensinar e aprender, merece destaque a obra

Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar, em que Paulo Freire faz

referência a Vygotsky em vários momentos.

Na perspectiva freiriana, não é possível o ato de ensinar sem aprender,

pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”

(FREIRE, 1996, p. 25). Para tanto, ensinar e aprender não podem se realizar

sem o exercício do diálogo, pois é “impossível ensinarmos conteúdos sem

saber como pensam os alunos no seu contexto real, na sua cotidianeidade”

(1993a, p. 105). Importa enfatizar que, para o autor, o diálogo precisa ser

compreendido como “o selo do ato cognoscente, desvelador da realidade”

(1987, p. 72), já que uma das grandes distorções a respeito de seu

pensamento é considerar que uma educação libertadora minimize o valor dos

conteúdos.

Vale reiterar, “é preciso que quem sabe saiba sobretudo que ninguém

sabe tudo e ninguém tudo ignora” (1982, p. 27). As relações dialógicas,

fundadas na consciência do inacabamento, fornecem as bases para a

reciprocidade do ensinar e do aprender, compreendidos como dimensões do

processo de conhecer. Tal reciprocidade também não se realiza sem o

exercício da curiosidade epistemológica (ver verbete), tema recorrente na

obra de Paulo Freire. Um importante reconhecimento dessa contribuição do

autor é feito por Hugo Assmann, na obra Curiosidade e prazer de aprender,

em que dedica um subtítulo sobre “A curiosidade – uma insistência explícita

de Paulo Freire” (2001, p. 188).

A promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica é uma

ênfase da reflexão de Freire acerca da função do educador. Segundo ele, a

disposição para aprender, fertilizada no exercício da curiosidade

epistemológica, é fundamental ao ato de ensinar, assim como ao de aprender.

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