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ENGAJAMENTO

Balduino Andreola

Foi-me pedido que escrevesse o verbete “Compromisso” para a nova

edição do Dicionário Paulo Freire. Eu preferi escrever sobre “Engajamento”.

O vocábulo me parece muito mais denso em significação e traduzir muito

melhor o pensamento e a ação de Freire. Pêgo de surpresa, não sabia se ele

usava muito o vocábulo “engajamento”. Procurei no livro Conceitos de

educação em Paulo Freire (VASCONCELOS; BRITO, 2006). As autoras trazem

os dois vocábulos “Engajamento” (p. 97) e “Compromisso” (p. 56). Na

década de 1960, no contexto cultural e político em que Freire construiu

grande parte de sua obra, todos os cristãos de esquerda falavam de

engajamento. Foi a época em que Mounier passou a exercer, naqueles grupos,

uma influência muito maior do que a de Maritain. Este não conseguiu

ultrapassar as fronteiras de uma concepção de “cristandade”, enquanto

Mounier avançou numa visão de “laicidade”, como compromisso de inserção

e de “engajamento” dos cristãos nas diferentes estruturas do mundo leigo ou

profano, em particular na política. O que não significaria filiar-se a um

partido com o rótudo “cristão”. Mounier considerava os partidos democratacristãos

uma “chaga da Europa”. “Engajamento” é um conceito central no

Personalismo de Mounier. Não foi ele, porém, quem o criou. Tenho comigo o

livro Problèmes du Personnnalisme, de Paul-Louis Landsberg, com prefácio

de Jean Lacroix. Landsberg foi, segundo Lacroix, “aluno” e “discípulo” de

Max Scheler. Teve que se refugiar na França e exerceu grande influência no

grupo da revista Esprit, em particular, em Mounier. No livro citado, ele

dedica 20 páginas ao capítulo “Réflexions sur l’engagement personnel”. No

livro Qu’est-ce que le personnalisme (Oeuvres, III, 1947, p. 19), referindo-se

às “filosofias do engajamento”, Mounier cita Scheler, Jaspers, Landsberg,

Kierkegaard, Gabriel Marcel e o “jovem personalismo francês”. No início do

capítulo sobre o “engajamento”, no livro O Personalismo (Oeuvres, III, 1949,

p. 498), ele começa falando da “ação” como essencial à “existência” e se

refere a Blondel como quem deu a maior contribuição a uma “teoria da ação”.

Bastaria lembrar sua obra clássica, em dois grossos volumes sobre a “ação”

(BLONDEL, 1963). No livro Conceitos de educação em Paulo Freire, no

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