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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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discência, as duas se implicam e explicam, e que os sujeitos nelas envolvidos,

apesar das diferenças que os distinguem, não se reduzem à condição de

objeto um do outro. Na obra Pedagogia do oprimido (1987a), mostra-nos que

a educação e o educador verdadeiramente comprometidos com a libertação

não podem fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a

quem o mundo “encha” de conteúdos; não podem basear-se numa

“consciência espacializada”, mecanicista, compartimentada, mas sim na

consciência como consciência intencionada ao mundo e nos homens como

“corpos conscientes”, problematizadores das suas relações com o mundo.

Pode-se dizer que, ao tratar da pedagogia da consciência, Freire pretende

elucidar do educando sua criticidade, sua criatividade e sua ação diante do

que está dado: é preciso que o oprimido tenha consciência de sua opressão

(pedagogia do oprimido). Já ao tratar da pedagogia da pergunta, ele reflete a

relação professor-aluno enquanto concepção bancária x concepção

libertadora, em que o primeiro (como num banco) deposita conhecimentos,

por meio da transmissão apenas, no segundo, e este o armazena e devolve na

prova final. Nessa visão o “educador será tanto melhor educador quanto mais

conseguir ‘depositar’ nos educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto

melhores educados, quanto mais conseguirem arquivar os depósitos feitos”

(1987a, p. 66). Portanto, nessa concepção, educador e educandos se

arquivam, se anulam, na medida em que, nessa distorcida visão da educação,

não há criatividade, não há transformação, não há saber (1987a, p. 58). Em

sua obra Pedagogia: diálogo e conflito (1985), Freire enfatiza essa ideia,

mostrando o quanto o educador bancário, “burocrata da mente”, caminha

com a posse do objeto de conhecimento, confundindo-se com ele. O saber

corresponde à doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. O

educador, que dessa forma aliena a ignorância, apresenta posições fixas,

invariáveis, disciplina, opta e prescreve sua opção, estimula a ingenuidade, e

não a criticidade, restringindo o interesse dos estudantes aos dos opressores.

Os educandos, por sua vez, reconhecem em sua ignorância a razão da

existência dos educadores e não se descobrem como educadores do educador;

não sabem, são os pensados, seguem a prescrição, têm a ilusão de que atuam

(na atuação do educador), se acomodam aos conteúdos e adaptam-se às

determinações do educador. Mesmo que não possamos pensar essa visão de

forma linear e estática, porque a educação/educador bancários podem,

contraditoriamente, vir a fomentar a luta libertadora, esta só é possível por

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