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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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EDUCADOR/EDUCANDO

Mari Margarete dos Santos Forster

A (re)educação do educador constitui um dos eixos fundantes do discurso

político-pedagógico freiriano. Sua preocupação central é com a formação

profissional e com o compromisso sociopolítico desse educador, ser

inacabado. Freire entende que essa (re)educação é processual, lenta e

construída na cotidianidade docente que, por sua vez, está inserida em um

contexto sociocultural particular, que é condicionador, mas não determinante

dela. Na obra Medo e ousadia (1987b): o cotidiano do professor, Freire, em

diálogo com Ira Shor, educador norte-americano, aponta-nos algumas

reflexões sobre suas diferentes e ricas aprendizagens na transição de um

modelo de “professor transmissor”, que era, para outro de “professor

libertador”, que descobriu ser na medida em que ia ensinando, dialogando

com os estudantes: “Se você me perguntasse se eu tinha uma noção

sistemática do que significava o diálogo, eu lhe diria que não. Não construíra

nenhuma epistemologia para planejar o que ensinar. Eu tinha intuição”

(1987b, p. 39-40). Ele achava que deveria começar falando com os

educandos, não apenas lhes dar aulas, explicar-lhes coisas, mas provocá-los

criticamente a respeito do que ele próprio dizia. Freire admite que cometeu

erros, que era um professor tradicional, mas “era capaz de ir além” (1987b, p.

40). Discute, nessa direção, a educação e o educador bancários e os contrapõe

à educação e ao educador problematizadores, libertadores. Portanto, ao longo

de suas obras, vai apontando caminhos para essas rupturas de paradigmas,

trabalhando concepções de educador e educando sempre integradas, pois não

as concebe separadas: “o educador já não é o que apenas educa, mas o que,

enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado,

também educa” (1987a, p. 68). Ambos, educadores-educandos/educandoseducadores,

vão se tornando sujeitos no processo vivido, crescendo juntos.

Freire introduz aqui a discussão de que os “argumentos de autoridade” já não

valem nessa relação. Instiga-nos, em várias de suas obras, inicialmente na

Pedagogia do oprimido, dizendo que “para ser-se, funcionalmente,

autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas”

(1987a, p. 68). Acerca disso ainda diz que a docência não existe sem a

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