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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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imperativo existencial e histórico” (FREIRE, 1992, p. 10). E, na citação de si

mesmo, substitui a expressão “imperativo existencial e histórico” por

“exigência ontológica”, o que reforça a ideia de que sua concepção de

educação deriva de sua concepção a respeito da singularidade (esperançosa)

da natureza humana.

Na perspectiva do educador pernambucano, a educação é também

dialógico-dialética, porque é uma relação entre educando, educador e o

mundo, no círculo de cultura, que deve substituir, no caso da educação

escolarizada, a aula. E, ao contrário da “educação bancária”, o(a) educador(a)

não é a mediação entre o conhecimento e o(a) educando(a), porque nela,

quem faz a mediação – no sentido da transformação do imediato em mediato

– é o(a) próprio(a) educando(a). “Já agora ninguém educa ninguém, como

tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em

comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1978, p. 79). Nessa citação,

percebe-se toda a riqueza da concepção freiriana de educação. Em primeiro

lugar, apesar da dupla negativa “ninguém educa ninguém”, o(a) educador(a) é

importante, na medida em que “tampouco ninguém se educa a si mesmo”.

Portanto, o ato educacional é uma relação de “do-discência” – neologismo

criado por Freire para exprimir a simultaneidade e mutualidade do

ensinar/aprender/ensinar –, em que educador(a) e educando(a) são sujeitos

estratégicos do processo, no qual a aprendizagem é o “princípio fundante” do

ensinar, e não o contrário. Em segundo lugar, a pedagogia de Freire inverte a

relação verticalizada da “educação bancária”, que estabelece a primazia do(a)

professor(a) sobre o(a) estudante, do ensinar sobre o aprender, da

comunicação de saber docente sobre o processo de reconstrução coletiva dos

saberes dos(as) educandos(as) e do(a) educador(a). Finalmente, vale-se de

outro neologismo, “mediatizados” – para não ser confundido com os diversos

sentidos emprestados ao termo “mediar” –, para enfatizar que a mediação não

se dá entre o(a) aluno(a) e o conhecimento, por meio do(a) professor(a), que

atuaria como uma espécie de ponte, mas entre ambos e o mundo. Assim, a

educação apresenta uma dupla dimensão: política e gnosiológica. A dimensão

política é a leitura de mundo, e a dimensão gnosiológica é a leitura da

palavra, dos conceitos, das categorias, das teorias, das disciplinas, das

ciências, enfim, das elaborações humanas anteriormente formuladas. A

dimensão política dá os fundamentos da dimensão gnosiológica (de

conhecimento).

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