30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

nisso consiste um dos sofismas da prática reacionária da educação bancária.

Isso porque, aprendizado nesta perspectiva crítica e verdadeira requer

compreensão da significação profunda da palavra. Portanto, educar-se se

torna uma oportunidade cultural, para os seres humanos perceberem o que

realmente significa dizer a palavra da sua perspectiva existencial. Ou seja,

algo que só nós podemos fazer e, consequentemente, envolve ação e reflexão

acopladas e simultâneas. Dizer a palavra, nesta perspectiva verdadeira, é um

direito humano de expressar-se e expressar o mundo, de criar e recriar, de

decidir e optar, não podendo ser privilégio de alguns poucos que dominam a

maioria.

Além disso, dizer a palavra implica romper com a cultura do silêncio

imposta e hegemonizada pela educação bancária. Agindo contrahegemonicamente,

dizer a palavra é fazer história e por ela ser feito e refeito.

Tomar a história nas mãos, conforme já afirmamos acima, vai desmontando o

sistema opressor que nos oprime culturalmente e constrói o projeto libertador.

Portanto, ao povo, as maiorias, cabe dizer a palavra de comando no processo

histórico-cultural (FREIRE, 1976a). Por outro lado, convém alertar que nossa

existência dialógica dar-se-á no âmbito da tensão dramática entre o passado

silencioso e o futuro comunicativo, entre criar condições existenciais

melhores e não criar, entre dizer a palavra verdadeira para nós e o silêncio

castrador que nos oprime, entre a esperança do vir a ser e o desespero do sem

porvir, entre ser mais e quase não ser no mundo vivido (FREIRE, 1993). No

escopo da luta de classes, dizer a palavra não é apenas dizer “bom dia” para o

opressor diariamente ou seguir as prescrições dos que, com seu poder,

comandam e nos exploram. Dizer a palavra é fazer história e por ela ser feito

e refeito, cotidianamente com os envolvidos nesse processo libertador. As

classes dominadas, silenciosas e esmagadas, só dizem sua palavra quando,

tomando a história em suas mãos, desmontam o sistema opressor que as

destrói. É na práxis revolucionária, com uma participação vigilante e crítica,

que as classes dominadas aprendem a “pronunciar” seu mundo, descobrindo,

assim, as verdadeiras razões de seu silêncio anterior (FREIRE, 1970).

Resumindo, dizer a palavra no campo escolar requer que assumamos que

educandos-educadores precisam reelaborar os conteúdos culturais,

assumindo-se como coautores desse processo formativo. Caso contrário, a

escolarização torna-se um eterno dizer a palavra do outro de outros tempos.

Contemporaneizar o dizer a palavra atribui significado atual para os temas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!