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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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organização do conteúdo programático para posterior tematização e vivência

de atos-limite (FREIRE, 1996). Em outras palavras, conhecer o discurso para

reconhecer saberes necessários e indispensáveis à prática educacional

dialógica.

No âmbito da aprendizagem, tão obstaculizada pela codificação

científico-tecnológica, mesmo na atualidade com a mediação das Tecnologias

da Informação e Comunicação, ao estudar seu próprio texto ou de

companheiros de outra realidade concreta, os educandos-educadores estariam

estudando o discurso que brotou da descodificação de uma temática (FREIRE,

1992). Gnosiologicamente, ao dialogar e não apenas ao ler o discurso

anterior, fariam a crítica deste, com um novo, a ser registrado também no

processo. O discurso sobre o discurso anterior, que implica o conhecimento

do conhecimento anterior, daria lugar a um novo livro, um segundo livro de

leitura, cada vez mais rico, mais crítico, mais plural em sua temática. Dessa

maneira, estar-se-ia tentando um esforço sério no sentido do desenvolvimento

da expressividade dos educandos-educadores que iriam, cada vez mais, se

inserindo criticamente na realidade concreta, reelaborando assim seus

discursos tematizados. Inserção crítica, por meio da qual iriam ganhando

mais rapidamente a compreensão de que à nova estrutura do real vivido,

corresponde um novo pensamento-linguagem (FREIRE, 1991).

Dessa forma, os próprios educandos, ao estudarem os seus discursos,

fariam a crítica deste, que implicaria um aprendizado, diferente do que fariam

com frases prontas e discursos dos outros. Afinal, deste ponto de vista

educacional, o discurso é uma codificação a ser decodificada. Contudo,

essencial é a coerência entre discurso e prática, ou seja, ser o mesmo ao falar

e agir. Por outro lado, como educadores-educandos precisamos insistir que é

a prática quem ajuíza o discurso, e não o contrário (FREIRE, 1982). Pois,

discurso incoerente com a prática, vira puro palavreado manipulador,

discurso populista fora do escopo da práxis. Finalizando, alertamos que,

enquanto apenas focarmos nosso trabalho educacional dialógico na frase,

ficando assim na sua periferia, provavelmente não faremos outra coisa, ao

falar do tema que ela envolve, senão um discurso de “frases feitas” (FREIRE,

1996). Análise discursiva, na perspectiva dialógica, é essencial para produzir

práxis libertadora na educação cotidianamente.

Referências: FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade: e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1976; FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São

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