30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

acolhe educandos e os induz a comportamentos que silenciam desejos e a

expressão do mundo no qual se formaram. Os códigos que regulam rotinas de

sala de aula revelam a complexa relação que os homens estabelecem entre si,

que, por contratos, abrem mão da liberdade absoluta em favor da geração de

condições para a convivência capaz de garantir vida.

Freire ajuda a pensar a agenda libertadora quando trabalhamos decididos

a favor da disciplina a serviço da construção da sociedade justa para todos.

Para o autor, não é legítimo o trabalho “contra a formação de séria disciplina

do corpo e da mente, sem a qual se frustram os esforços por saber. Tudo em

favor da [...] sala de aula em que ensinar, aprender, estudar são atos sérios,

mas provocadores de alegria”. Educador democrático não pode acanhar a sua

autoridade ou atrofiar a liberdade do educando (1995, p. 72), quando a

autoridade acaba comprometida e se abole a repressão, mas não consegue

avançar no diálogo como perspectiva construtora da humanidade. A Terceira

Carta Pedagógica, com densidade, Freire aborda a tensa relação entre a

liberdade, a autoridade e a disciplina. Muito particularmente, refletindo o

processo de desgentificação de jovens, pertencentes à classe média de

Brasília, que saem à noite para a consumação da liberdade que presumem ter,

Freire questiona-se acerca da “ausência” da autoridade e da disciplina

(FREIRE, 2000).

Assim, a constituição democrática da disciplina, mediada pelo diálogo,

pode superar a violência da organização do espaço e do tempo em sala de

aula. Freirianamente, então, é possível questionar os paradoxais contratos que

se materializam na constituição da disciplina escolar, razão pela qual não

passamos do “contrato” à “disciplina como atividade livre” ou “disciplina da

liberdade” (LEIF; RUSTIN, 1978, p. 143 e 156). A escola tão pouco é espaço e

tempo de disciplina coercitiva quando é negadora de novos contratos.

Portanto, sem a necessária disciplina o sujeito fecha-se narcisicamente em

sua identidade. Mas, exigir disciplina, pela autoridade pouco legítima

(FREIRE, 1982), de alunos que na escola são levados a internalizar a ideia de

que devem ser subalternos aos agentes institucionais ou da estrutura que

mantém a sociedade como hoje se apresenta, é um ato político e

epistemológico imponderável. A disciplina, sob tal proposta, serve para

inculcar nas crianças o respeito à ordem posta pela sociedade, a fim de

estimular o exercício da conformidade às imposições e à obediência ao poder

estabelecido.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!