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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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Na teoria freiriana, a base da relação discência/docência está no rigor

ético dos processos reflexivos, que têm a prática como principal inspiração.

“A prática de pensar a prática e de estudá-la nos leva à percepção anterior ou

ao conhecimento do conhecimento anterior que, de modo geral, envolve um

novo conhecimento” (FREIRE, 1993, p. 113). A visão epistemológica de Freire

assume a discência e a docência numa permanente simbiose, que impede o

olhar de qualquer um dos componentes em separado. Nela o conhecimento é

processo de recriação, em que o ensinar e o aprender se colocam em perfeita

sintonia. Essa possibilidade requer uma posição de humildade, condição

defendida por Freire como a base do diálogo. Ele diferencia humildade de

submissão e reafirma que “a pedagogia democrática materializa-se pela ação

do professor libertador que convida os alunos para a transformação, que

ensina de modo dialógico e não de modo autoritário, que dá exemplo como

estudioso crítico da sociedade” (FREIRE, 1986, p. 162). Para explicitar com

mais intensidade a relação entre docência e discência Freire (1997, p. 31)

cunhou a expressão “do-discência”, afirmando que “ensinar, aprender e

pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se

ensina e se aprende o conhecimento já existente e o que se trabalha a

produção do conhecimento ainda não existente”. Nessa perspectiva a “dodiscência

e a pesquisa, indicotomizáveis, são assim práticas requeridas por

estes momentos gnosiológicos”. Essa condição faz parte das qualidades do

professor que pensa certo. “Quem pensa certo, mesmo que, ás vezes pense

errado, é quem pode ensinar a pensar certo. E uma das condições necessárias

a pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas” (FREIRE,

1997, p. 30).

Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997; FREIRE,

Paulo. Professora sim, tia não. Cartas a quem ama ensinar. São Paulo: Olho D’água, 1993; FREIRE,

Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia. O cotidiano do professor. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.

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