Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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Em razão disso, é que Freire (1986) não nega a natureza diretiva daeducação, seja ela praticada pelo educador diretivo libertador, seja pelapraticada pelo educador diretivo domesticador. O que caracteriza adiretividade libertadora é uma proposta de educação, da qual o educadornecessita se apropriar, atuando de forma democrática, intercambiandoexperiências, saberes, contradições, conflitos, com vistas a construirmecanismos de intervenção e transformação social. Por sua vez, o queidentifica a diretividade dominadora são os objetivos e os conteúdos daeducação, além do poder diretivo do próprio professor que monopoliza adecisão sobre os procedimentos de ensinar, bem como sobre a forma com queo aluno deve devolver (reproduzir) aquilo que aprendeu.Referências: FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 4. ed. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1986; FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo leitura dapalavra. Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990; HADDAD,Sérgio. Ousadia do cotidiano. In: GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo:Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF; UNESCO, 1996. p. 279-280; ROMÃO, José Eustáquio.Eterna demanda do reencontro. In: GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo:Cortez/Instituto Paulo Freire; Brasília, DF; UNESCO, 1996. p. 246-248.

DISCÊNCIA/DOCÊNCIAMaria Isabel da CunhaAo usar esses termos de forma biunívoca, Freire revela a sua concepçãode que os processos de ensinar e aprender são concomitantes e que há umainevitável intersecção entre eles.. Essa perspectiva “está na base da educaçãolibertadora pois ela é, fundamentalmente, uma situação na qual tanto osprofessores como os alunos devem ser os que aprendem; devem ser sujeitoscognitivos, apesar de serem diferentes” (FFREIRE; SHOR, 1986, p. 46).A ideia que sustenta a condição da discência/docência situa-se nacondição crítica do que é ensinar e do que é aprender, visto de formadicotômica. Para Freire, não existe ensinar sem aprender, e essa percepçãoextrapola a condição necessária de um professor com seus alunos, masenvolve a ideia de que[...] ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensinaaprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antesaprendido e, de outro, porque observando a maneira como a curiosidadedo aluno aprendiz trabalha [...] o ensinante se ajuda a descobririncertezas, acertos, equívocos. (Freire, 1993, p. 27)A síntese dessa concepção se revela em uma frase, distinguida em seusescritos, fazendo uso do jogo de palavras, tão próprio de seu estilo. Diz Freireque “ensinar ensina o ensinante a ensinar” (p. 29).Essa posição provocou alguns equívocos por parte de alguns educadores,que confundiram a relação discência/docência com o vazio definidor depapeis sociais, aproximando-se de uma postura espontaneísta. Vale lembrar,porém, que Freire critica a posição de laissez-faire e reitera:[...] tenho de ser radicalmente democrático, responsável e diretivo. Nãodiretivo dos estudantes, mas diretivo do processo no qual os estudantesestão comigo. Enquanto dirigente do processo, o professor libertadornão está fazendo alguma coisa aos estudantes, mas com os estudantes.(Freire, 1986, p. 61)

Em razão disso, é que Freire (1986) não nega a natureza diretiva da

educação, seja ela praticada pelo educador diretivo libertador, seja pela

praticada pelo educador diretivo domesticador. O que caracteriza a

diretividade libertadora é uma proposta de educação, da qual o educador

necessita se apropriar, atuando de forma democrática, intercambiando

experiências, saberes, contradições, conflitos, com vistas a construir

mecanismos de intervenção e transformação social. Por sua vez, o que

identifica a diretividade dominadora são os objetivos e os conteúdos da

educação, além do poder diretivo do próprio professor que monopoliza a

decisão sobre os procedimentos de ensinar, bem como sobre a forma com que

o aluno deve devolver (reproduzir) aquilo que aprendeu.

Referências: FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1986; FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo leitura da

palavra. Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990; HADDAD,

Sérgio. Ousadia do cotidiano. In: GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo:

Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF; UNESCO, 1996. p. 279-280; ROMÃO, José Eustáquio.

Eterna demanda do reencontro. In: GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo:

Cortez/Instituto Paulo Freire; Brasília, DF; UNESCO, 1996. p. 246-248.

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