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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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um compromisso ético com a palavra enquanto autovalia, como expressão de

si. Empenha, com ela, os valores do seu nome, da sua família, da sua

identidade e realiza a sua poiesis. Nas palavras de Castro, “a poiesis é a

permanência concreta como identidade, memória e linguagem do incessante

manifestar-se do real. Por isso, a poiesis é sempre ética, porque linguagem do

ser” (CASTRO, 2004, p. 8).

Pensar a diferença, o direito à sua produção e expressão, nas bases de

uma proposta teórico-metodológica, de um conjunto de práticas pedagógicas

críticas, é propor uma abertura do ser para si mesmo, para os outros e para o

mundo como caminho para evolução histórico-sociocultural de todos.

Inspirada em Freire, Loureiro (2005, p. 111) afirma que “a pessoa que se abre

para si mesma, para o outro e para o mundo, construindo relações autênticas e

um olhar crítico sobre a realidade, inaugura com essa abertura a relação

dialógica”.

A concepção de diferença no pensamento de Paulo Freire ultrapassa os

limites do que chamamos de categoria ou conceito, tornando-se, porque

vinculado à práxis, um marcador operacional de comunicabilidade e de

reciprocidade na medida em que decorre da sua compreensão de homem, da

identidade humana como “um ser de relações num mundo de relações”

(1992, p. 39).

Na esteira dessa abordagem da diferença, do direito de ser e de produzir

diferença, como uma exigência ontológica, Freire defende a autonomia do ser

humano e sua autoria em níveis cada vez mais complexos, porque

construídos no diálogo consigo mesmo e com o mundo em complexificação.

Ultrapassando seus limites, a produção da diferença potencializa a unificação

do humano em torno de sua vocação ontológica: ser mais. Reside aí, o

respeito de Freire pela importância cósmica da existência e da presença do

outro no mundo. Nesse sentido, o pensamento freiriano converge com uma

máxima de Teilhard de Chardin: “Ser é unir-se a si mesmo, ou unir os outros”

(In: ARCHANJO, 1997, p. 108).

Contrário à negligência da sociedade quanto ao respeito às diferenças e

aos limites da liberdade e da vontade humana, Freire produziu um conjunto

de “cartas pedagógicas”, reunidas em seu último livro: Pedagogia da

indignação. Para Freire, todo educador precisa, ao assumir-se como ser

humano nas relações com o mundo, assumir um compromisso sem tréguas

com a autoridade e com a liberdade. Conviver com a diferença leva Freire

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