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DIFERENÇA

Felipe Gustsack

A diferença, como tantos outros marcadores do pensamento freiriano, tem

como base a dialogicidade, o saber falar e saber ouvir que sustenta suas

propostas de educação e de transformação social. Para Freire, “Aceitar e

respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode

dar” (FREIRE, 1998, p. 136). Sem escuta não há diálogo, há monólogo; e este

é terreno fértil para a imposição de valores, a invasão cultural e a dominação.

Ao estabelecer as características fundantes do diálogo (amor, humildade,

fé nos homens, esperança e pensar crítico), Freire aliena qualquer

possibilidade de desrespeito às diferenças. “Como posso dialogar se me

admito como um homem diferente, virtuoso por herança, diante dos outros,

meros ‘isto’, em quem não reconheço outros eu?” (1987, p. 80). Ao exigir do

homem a humildade, todavia, o respeito à diferença não o torna um ser

submisso à arrogância dos outros. “A humildade exprime, pelo contrário,

uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a

ninguém”. A carência de humildade nas pessoas, manifestada em atitudes

arrogantes e de falsa superioridade “de uma pessoa sobre outra, de um gênero

sobre outro, de uma classe ou de uma cultura sobre outra, é uma transgressão

da vocação humana do ser mais” (1998, p. 137).

Ou seja, o tema da diferença faz parte de toda a discussão feita por Freire

quanto ao compromisso do ser humano com a humanização do mundo. Além

disso, o reconhecimento e o respeito à diferença abarca, em Freire, a

perspectiva para um diálogo mais amplo, que pode ser percebido em

dimensões interculturais. Nessa direção, Freire questiona: “Como estar aberto

às formas de ser, de pensar, de valorar, consideradas por nós demasiado

estranhas e exóticas de outra cultura?” (1998, p. 137).

A diferença em Freire, por estar vinculada à práxis humanista, constituise

como motor da curiosidade que mobiliza e nutre o ato de conhecer

exigindo a humildade e o compromisso com a palavra, pois dizer a sua

palavra não é privilégio de alguns, mas um direito de todos os homens. Aqui,

sua abordagem encontra eco com a autonomia, com a produção do homem

por si mesmo nas relações com o mundo. Nessas práticas a pessoa assume

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