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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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moldaram consistentemente nosso relacionamento e seu relacionamento com

outros.

Ocupando o espaço entre o político e o possível, Paulo Freire passou a

maior parte de sua vida trabalhando na crença de que vale a pena lutar pelos

elementos radicais da democracia, que a educação crítica é um elemento

básico da mudança social e que a forma como pensamos sobre a política é

inseparável de como compreendemos o mundo, o poder e a vida moral que

aspiramos a levar. De muitas maneiras, Paulo incorporava o relacionamento

delicado e muitas vezes problemático entre o pessoal e o político. Sua própria

vida foi um testemunho não somente de sua crença na democracia, mas

também da noção de que nossa vida tinha de se aproximar o máximo possível

de exemplificar as relações e experiências sociais que atestavam um futuro

mais humano e democrático. Ao mesmo tempo, Paulo jamais moralizou

sobre a política, jamais empregou o discurso da vergonha ou reduziu o

político ao pessoal quando falava sobre questões sociais. Para ele, problemas

privados tinham que ser compreendidos em relação a questões públicas

maiores. Tudo a respeito dele sugeria que a maior qualidade da política era

humildade, compaixão e uma vontade de lutar contra injustiças humanas.

A crença de Freire na democracia bem como sua profunda e permanente

fé na capacidade das pessoas de resistir ao peso de instituições e ideologias

opressoras foram forjadas em um espírito de luta temperado tanto pelas

sombrias realidades de sua própria prisão e exílio, mediadas por um ardente

sentimento de indignação quanto pela crença de que a educação e a esperança

são as condições da atuação e da política. Profundamente consciente de que

muitas versões contemporâneas da esperança ocupavam seu próprio canto na

Disneylândia, Freire lutou contra tais apropriações e desejava veementemente

recuperar e rearticular a esperança mediante, segundo suas palavras, uma

“compreensão da história como possibilidade, e não como determinismo”.

Para Freire, a esperança era uma prática de testemunho, um ato de

imaginação moral que possibilitava que educadores/as progressistas e outras

pessoas pensassem de maneira diferente para agir de maneira diferente. A

esperança precisava estar ancorada em práticas transformadoras, e uma das

tarefas do/a educador/a progressista era “desvelar possibilidades para a

esperança, não importam quais sejam os obstáculos”. Subjacente à política da

esperança de Freire estava uma concepção de pedagogia radical que se

situava nas linhas divisórias onde as relações entre dominação e opressão,

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