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CURIOSIDADE EPISTEMOLÓGICA

Ana Lúcia Souza de Freitas

A curiosidade é tema recorrente na obra de Paulo Freire, desde seus

primeiros escritos. A relevância da curiosidade para o autor se expressa

claramente no diálogo com Carlos Alberto Torres, publicado em Educação

na Cidade. Diante do questionamento “Qual é a herança de Paulo Freire para

nós, educadores latino-americanos e de outras partes do mundo?”, o autor

responde: “Penso que poderá ser dito quando já não esteja no mundo: Paulo

Freire foi um homem que amou. Ele não podia compreender a vida e a

existência humana sem amor e sem a busca de conhecimento. Paulo Freire

viveu, amou e tentou saber. Por isso mesmo, foi um ser constantemente

curioso” (p. 139-140).

A curiosidade é concebida por Paulo Freire como necessidade ontológica

que caracteriza o processo de criação e recriação da existência humana.

Todavia, é quando ultrapassa os limites peculiares do domínio vital que a

curiosidade se torna fundante da produção do conhecimento. Foi a

capacidade de olhar curiosa e indagadoramente o mundo que tornou os

homens e as mulheres capazes de agir sobre a realidade para transformá-la,

transformando igualmente a qualidade da própria curiosidade. Em Cartas à

Cristina, o autor afirma que “é enquanto epistemologicamente curiosos que

conhecemos, no sentido de que produzimos o conhecimento e não apenas

mecanicamente o armazenamos na memória” (p. 148).

O tema da curiosidade é desenvolvido em sua obra antes mesmo de se

fazer presente sob a forma da expressão curiosidade epistemológica. Ao

definir a educação como um ato de conhecimento, Paulo Freire faz a

denúncia da pedagogia da resposta como fundamento das práticas da

educação bancária (ver verbete), cujas certezas se revelam castradoras da

curiosidade dos educandos. Inversamente, considera a curiosidade uma

espécie de antídoto das certezas e propõe que as práticas da educação

libertadora (ver verbete) potencializem o caráter desafiador da curiosidade

mediante a pedagogia da pergunta.

Especialmente nas obras da década de 90, a curiosidade é tematizada e

adjetivada como epistemológica. A criação do termo curiosidade

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