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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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eixo do poder) e simbolicamente alienada (fora do eixo da consciência).

Dentro dessa situação, não sendo conscientizado pela sua própria cultura, o

povo não poderá sê-lo por outro qualquer meio usual na conjuntura de

dominação. E, no entanto, somente a partir da ação conscientizada e

organizada das classes populares é legítimo imaginar a possibilidade de um

projeto de libertação de todas as esferas de domínio na sociedade de classes.

Vejamos como as ideias mais decisivas dos MCPs dos anos 1960, no

Brasil, poderiam ser ampliadas, mesmo que por um momento corramos o

risco de nos afastar do pensamento de seus documentos originais.

Em uma sociedade igualitária e regida por princípios de justiça e

fraternidade, a diferença entre culturas é um bem. A sua pluralidade

correspondente à presença de diversos grupos étnicos e mesmo nacionais, à

diversidade de suas regiões e à associação entre tudo isto e a variedade de

vocações e estilos de vida e de representação da experiência particular de um

grupo ou povo no curso da realização de sua vida, é desejável. É mesmo um

dos indicadores mais fiéis de um estado cultural de liberdade de criação, a

partir de diferenças culturais negadoras de diversidades sociais. É em nome

disso que se defende na América Latina o direito a que todos os povos

indígenas mantenham a plenitude de suas próprias experiências culturais em

todos os seus planos, da língua à religião, o que desautoriza qualquer tipo de

prática cultural homogeneizadora, mesmo quando em nome de sua

“integração à comunidade nacional”, mesmo quando em nome da produção

de uma “genuína cultura nacional”.

Outra coisa é a desigualdade cultural decorrente de estruturas e processos

de imposição de valores, de negação do direito à expressão cultural de povos,

de grupos e de etnias minoritários ou dominados social e culturalmente. Na

sociedade desigual uma posição estrutural entre formas sociais de

participação na criação, na partilha e no consumo da cultura, é o que explica a

própria cultura popular. Uma cultura popular “alienada” (o termo era bastante

comum na época) é negadora de uma vocação de direitos humanos em um

duplo sentido. Primeiro, ela resulta de uma imposição de conhecimentos,

valores e códigos de relacionamentos interpessoais de classes e grupos

hegemônicos sobre outros, traduzindo a própria relação social de

desigualdade, e também o poder de uma classe em impor a outras e a outros

grupos de seu meio, visões de mundo e expressões de identidade que não são

criações suas e não expressam a sua própria experiência no mundo; segundo,

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