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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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sentindo-se muito próximos aos animais e às árvores, na zona rural, ou às

pedras, ruas ou praças nos centros urbanos, disputando o que comer com

animais, nos lixões. Esse jeito de viver acontece pela “aderência à realidade

em que se encontram, sobretudo os oprimidos” (FREIRE, 1980, p.205). São

homens e mulheres submetidos a uma acomodação, a uma massificação que

decorre das formas como as elites os domesticam, mediante ações

antidialógicas: pela manipulação vão “anestesiando” os indivíduos,

impedindo-os de conscientizar-se das situações opressoras vividas,

silenciando vozes e gestos e com isso facilitando a dominação, resultado de

ações culturais politicamente engendradas e que produzem essa cultura do

silêncio.

Ela atinge tudo e todos, que, fazendo parte das classes dominadas, vão

aprendendo desde a infância a não dizer sua palavra. Da família ao trabalho,

passando pelo longo período de disciplinamento na escola, vão sendo

submetidos a uma educação bancária e a práticas de domesticação. Dessa

forma, vai sendo instituído um silêncio que indica mutismo frente à opressão,

mas não implica, necessariamente, não saber. Para romper com essa cultura

do silêncio e as condições que a constroem, é preciso desenvolver e fortalecer

uma educação problematizadora ou libertadora.

Paulo Freire manteve várias interlocuções com outros autores sobre a

cultura do silêncio. Com Ira Shor, Freire (1987) examinou como há uma

cultura do silêncio tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, apesar das

diferenças culturais de cada povo, pois ambas são sociedades capitalistas.

Além disso, destacaram a importância de uma pedagogia do empowerment e

do método dialógico como possibilidades para produzir rupturas nessa

cultura do silêncio, o que também poderia acontecer através de uma

alfabetização crítica e emancipadora, segundo conversa mantida com

Donaldo Macedo e proposta defendida por Giroux (FREIRE; MACEDO, 1990).

Paulo Freire afirma que há também um silêncio que pode e deve ser

acolhido, pois ele faz parte da comunicação dialógica, onde é preciso saber

escutar para saber refletir, analisar, argumentar, avaliar, decidir e, para isso, o

silêncio é fundamental e fundante. Como ele diz: “o educador democrático,

que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem,

falando, cala para escutar a quem silencioso, e não silenciado, fala” (FREIRE,

1997, p. 132). Para isso há que aprender a controlar-se frente à presença de

um outro que também tem o que dizer. Esse outro, mesmo silencioso, precisa

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