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CULTURA DO SILÊNCIO

Cecília Irene Osowski

Para Paulo Freire a cultura do silêncio é produzida pela impossibilidade

de homens e mulheres dizerem sua palavra, de manifestarem-se como

sujeitos de práxis e cidadãos políticos, sem condições de interferirem na

realidade que os cerca, geralmente opressora e/ou desvinculada da sua

própria cultura. Ela é o resultado de ações político-culturais das classes

dominantes, produzindo sujeitos que se encontram silenciados, impedidos de

expressar seus pensamentos e afirmar suas verdades, enfim, negados em seu

direito de agir e de serem autênticos. Eles constituem a classe dos oprimidos

que não conseguem reconhecer-se como sujeitos criativos capazes de

transformar aquilo que os cerca, estando sem condições de apresentar novas

ideias ou de manifestar práticas culturais diferentes daquelas às quais estão

submetidos.

Interditados de participar ativamente dos acontecimentos, apenas se

inserem no já vivido ou naquilo que, mesmo sendo diferente do já vivido por

eles, lhes é apresentado pronto e acabado, sem possibilidade de sua

interferência, qualquer que seja. Negados que foram de compreender e

participar de ações transformadoras, eles acreditam serem “naturalmente”

inferiores à classe dominante, sendo esse um dos mitos impostos pela cultura

dessa classe, a seu respeito. É dessa forma que são inscritos numa cultura do

silêncio, mas enquanto humanos estão ontologicamente expostos à

ambiguidade de ao ser menos, aspirarem a Ser Mais. Isso porque essa é a

vocação de todo ser humano, da qual ele não pode fugir, mesmo que esteja

dela afastado ou sem as condições necessárias para reconhecer sua identidade

cultural de classe dominada. Se tivesse consciência desse estado de estar

sendo menos humano, ou seja, estar sendo desumanizado, poderia tentar

pronunciar o mundo mediante “sua organização revolucionária para a

abolição das estruturas de opressão” (FREIRE, 1979, p. 50).

Portanto, a cultura do silêncio é gerada em estruturas opressoras nas

quais homens e mulheres submetem-se a forças condicionantes que os levam

a experienciarem-se como “quase-coisas”, colocados como estão em

estruturas que os fazem imersos e diluídos no tempo, muitas vezes vivendo e

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