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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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CORPO(S) CONSCIENTE(S)

Luiz Gonzaga

Esta noção aparece uma ou mais vezes em, pelo menos, 15 das obras

individuais de Paulo Freire, incluindo algumas das obras faladas e escritas em

parceria com educadores brasileiros ou estrangeiros. É abordada, pela

primeira vez, em Pedagogia do oprimido (1981) e, pela última vez, em

Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (1997).

Por algum motivo, essa noção permaneceu praticamente invisível no

conjunto da obra freiriana. Em Pedagogia do oprimido (1981, p. 71; 77; 106),

a noção aparece pela primeira vez com aspas e no plural. Aparece no capítulo

segundo do livro, como parte da construção da crítica à educação “bancária”

e, mais uma vez, no terceiro capítulo. Seu ponto de partida é o de uma

educação problematizadora dos seres humanos, em suas relações com o

mundo. A educação “bancária” é insustentável porque provoca “uma

dicotomia inexistente homens-mundo. [...] Concebe a sua consciência como

algo espacializado neles e não aos homens como “corpos conscientes” (p. 71;

77, grifo meu). Freire refuta a ideia de que a consciência é como um enclave,

ou compartimento no ser humano, ou capaz de apresentar-se de forma

passiva diante do mundo. O professor Ernani Maria Fiori, no prefácio da

Pedagogia do oprimido (p. 10), capta a força dessa noção quando diz de um

“mesmo mistério que nos invade e nos envolve, encobrindo-se e descobrindose

na ambigüidade de nosso corpo consciente”. Com espaço garantido nas

obras subsequentes, corpo consciente vai perder suas aspas.

No livro, Sobre educação (1982, p. 85-86), produzido com Sérgio

Guimarães, Freire aproxima, de forma sui generis, uma discussão sobre o

método e a noção de corpo consciente. Para ele, “o que é levado na discussão

da própria proposta metodológica é absolutamente fundamental. Porque, no

momento mesmo em que o método é apreendido e possuído pelo educador,

no fundo, ao tomar conta do método, ele domestica o educando através do

método” (p. 86). Então, arremata: “numa perspectiva libertadora, os

educandos precisam estar absolutamente convencidos de que, em primeiro

lugar, enquanto corpos conscientes, nós somos já método” (p. 86). Do

contexto de sala de aula, Paulo Freire chega ao ser humano em sua longa e

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