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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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sociedade capitalista e construir uma nova sociedade. Mas, para que isso

aconteça, os trabalhadores precisam tomar consciência de que são dominados

pela ideologia da classe dominante. A forma de pensar a vida e a sociedade é

ditada pelas ideias que a burguesia produz para manter a desigualdade social,

ainda que pareça absurdo que a humanidade inteira trabalhe e produza

subordinando-se a uma minoria de grandes empresários.

Na justificativa da Pedagogia do oprimido, Freire retoma essa linguagem

da contradição como luta de classes. Embora se utilize da metáfora hegeliana

da dialética do senhor e do servo, a linguagem aí é nitidamente marxista: “na

contradição, os oprimidos introjetam o opressor”. Mas, por outro lado, pese o

teor opressivo da contradição social, nela opera uma negatividade produtiva,

que se move na direção da superação: os oprimidos, tomando consciência de

sua situação de opressão e empreendendo uma ação global de transformação

da sociedade, são os agentes de sua própria libertação e da libertação dos

opressores. “Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será

suficientemente forte para libertar a ambos” (FREIRE, 1970, p. 31). Ao

buscarem a sua libertação, num primeiro momento, os oprimidos tendem a

ser opressores, porque a “estrutura do seu pensar se encontra condicionada

pela contradição vivida na situação concreta em que formam a sua

consciência” (FREIRE, 1970, p. 32). Nessa contradição, eles entendem que a

realização humana consiste em tornar-se igual ao opressor que introjetaram.

Sua consciência está marcada pela situação em que estão “imersos”.

Reconhecem-se no seu contrário, mas ainda não lutam pela superação da

contradição. “Um dos pólos da contradição pretendendo identificar-se com o

seu contrário” em vez de se reconhecer a si mesmo como outro diante do

reconhecimento daquilo que lhe é oposto (p. 33). Isso porque, numa

sociedade repleta de contradições, a consciência dos oprimidos, na sua

relação com a consciência dos que oprimem, torna-se dualista. “A situação de

opressão em que se formam, em que realizam a sua existência, os constitui

nesta dualidade, na qual se encontram proibidos de ser”, porque hospedaram

a consciência opressora e a partir dela veem o mundo (p. 34).

Mas no processo de conscientização os oprimidos reconhecem-se como

limitados pela situação concreta de opressão e, aos poucos, percebem a

falsidade do “ser para si do opressor”. Descobrem que seu modo de pensar é

condicionado pelas contradições da situação existencial e que seu ideal de ser

humano é o do opressor (FREIRE, 1979, p. 57). Como contradição do opressor,

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