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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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É possível perceber três momentos distintos do emprego do termo

conscientização na obra de Paulo Freire. Num primeiro momento, a

conscientização é explicitamente assumida como finalidade da educação. Na

obra já referida, destaca-se a afirmação de que: “A realidade não pode ser

modificada, senão quando o homem descobre que é modificável e que ele

pode fazê-lo. É preciso, portanto, fazer desta conscientização o primeiro

objetivo de toda a educação: antes de tudo provocar uma atitude crítica, de

reflexão, que comprometa a ação” (p. 40). Num segundo momento, chama a

atenção a ausência do termo. Essa fase da escrita traduz sua preocupação

acerca dos maus usos do conceito, nos anos 1970. A esse respeito, Paulo

Freire revela, em entrevista publicada na obra Educação na cidade: “Com

exceções, é claro, falava-se ou se escrevia de conscientização como se fosse

ela uma pílula mágica a ser aplicada em doses diferentes com vistas à

mudança do mundo” (p. 114). O autor também esclarece que a ausência se

deve à sua compreensão de que deveria, por um lado, deixar de usar a palavra

e, por outro, esclarecer melhor o que pretendia com o processo

conscientizador. O terceiro momento diz respeito à atualização de sua

reflexão, claramente expressa na Pedagogia da autonomia, última obra

publicada antes de falecer: “Contra toda a força do discurso fatalista

neoliberal, pragmático e reacionário, insisto hoje, sem desvios idealistas, na

necessidade da conscientização” (p. 60). Paulo Freire reitera a

conscientização como tarefa histórica de resistência crítica ao contexto

neoliberal e ratifica a natureza política da prática educativa.

Todavia, a educação, como processo de conscientização, não se esgota na

dimensão política. A esse respeito, é relevante consultar Medo e ousadia,

obra em que Paulo Freire revela, no diálogo com Ira Shor, sua compreensão

acerca da complementaridade das dimensões política, epistemológica e

estética do ato de conhecer, ao afirmar que “a educação é, simultaneamente,

uma determinada teoria do conhecimento posta em prática, um ato político e

um ato estético” (p. 146). A dimensão estética é a ênfase da obra Pedagogia

da autonomia, em que são tematizados a intuição, a emoção, o prazer, a

amorosidade e a alegria, entre outros saberes necessários à prática

educativa.

A conscientização requer o desenvolvimento da criticidade, que, aliada à

curiosidade epistemológica (ver verbete), potencializa a criatividade da ação

transformadora ante as situações-limite (ver verbete). Criticidade, curiosidade

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