Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
Na passagem acima se pode verificar a grande importância que PauloFreire atribui à consciência que cada ser humano tem de si mesmo, tanto dasua inconclusão quanto dos condicionamentos da sua forma de existir emsociedade. Contudo, a consciência de que nos fala Paulo Freire não deve serconcebida de modo espontaneísta, ingênuo e/ou fragmentado. Ao contrário, aluta de Freire sempre foi no sentido de que nós devemos superar a condiçãoingênua em que espontaneamente nos encontramos e atingirmos a criticidadeda consciência como realização da própria natureza humana. Nesse nível nóssomos capazes de ver o porquê de tudo o que está relacionado a nossa vida.Em sua última obra publicada em vida, Freire reforça mais uma vez opapel da conscientização na construção autêntica da existência humana que,ao mesmo tempo, implica a construção de um mundo socioculturalmentemais humanizado. É através da consciência crítica do inacabamento de seuser e da necessária atuação prática para transformar a realidade social que noscondiciona que nós, seres humanos, somos capazes de transcender a nósmesmos e nos humanizarmos como seres em permanente busca do ser mais.Entre nós, homens e mulheres, a inconclusão que se reconhece a simesma implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado numpermanente processo social de busca. Histórico-socioculturais, mulheres ehomens nos tornamos seres em que a curiosidade, ultrapassando os limitesque lhe são peculiares no domínio vital, se torna fundante da produção doconhecimento (FREIRE,1997, p. 61).A passagem da curiosidade ingênua para a curiosidade crítica e/ouepistemológica é o sentido que Freire (1997) atribui à conscientização. Oprocesso de elaboração/construção/atualização do conhecimento requer, alémda tomada de consciência, a radicalidade dialética que produz o constantetencionamento entre reflexão-ação, teoria-prática, discurso-inserção narealidade. Sem esse processo de tencionamento e síntese entre os dois polosdialéticos, a curiosidade epistemológica não se completa, atrofiando, assim, opotencial de transcendência do horizonte da consciência e ocasionandotambém certa cristalização da visão de mundo por falta da inserção prática doser humano na realidade que o está condicionando. Ou seja, as situaçõeslimitesque desafiam o potencial de realização de uma existência mais livre,consciente e responsável pela sua história, não poderão ser transpostas nateoria apenas. É a práxis transformadora da realidade, como construçãodialética do mundo e dos próprios sujeitos (pessoas humanas) que caracteriza
o processo de conscientização e o diferencia da simples tomada deconsciência.Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997; FREIRE,Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1994; FREIRE, Paulo. Pedagogia dooprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
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Na passagem acima se pode verificar a grande importância que Paulo
Freire atribui à consciência que cada ser humano tem de si mesmo, tanto da
sua inconclusão quanto dos condicionamentos da sua forma de existir em
sociedade. Contudo, a consciência de que nos fala Paulo Freire não deve ser
concebida de modo espontaneísta, ingênuo e/ou fragmentado. Ao contrário, a
luta de Freire sempre foi no sentido de que nós devemos superar a condição
ingênua em que espontaneamente nos encontramos e atingirmos a criticidade
da consciência como realização da própria natureza humana. Nesse nível nós
somos capazes de ver o porquê de tudo o que está relacionado a nossa vida.
Em sua última obra publicada em vida, Freire reforça mais uma vez o
papel da conscientização na construção autêntica da existência humana que,
ao mesmo tempo, implica a construção de um mundo socioculturalmente
mais humanizado. É através da consciência crítica do inacabamento de seu
ser e da necessária atuação prática para transformar a realidade social que nos
condiciona que nós, seres humanos, somos capazes de transcender a nós
mesmos e nos humanizarmos como seres em permanente busca do ser mais.
Entre nós, homens e mulheres, a inconclusão que se reconhece a si
mesma implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado num
permanente processo social de busca. Histórico-socioculturais, mulheres e
homens nos tornamos seres em que a curiosidade, ultrapassando os limites
que lhe são peculiares no domínio vital, se torna fundante da produção do
conhecimento (FREIRE,1997, p. 61).
A passagem da curiosidade ingênua para a curiosidade crítica e/ou
epistemológica é o sentido que Freire (1997) atribui à conscientização. O
processo de elaboração/construção/atualização do conhecimento requer, além
da tomada de consciência, a radicalidade dialética que produz o constante
tencionamento entre reflexão-ação, teoria-prática, discurso-inserção na
realidade. Sem esse processo de tencionamento e síntese entre os dois polos
dialéticos, a curiosidade epistemológica não se completa, atrofiando, assim, o
potencial de transcendência do horizonte da consciência e ocasionando
também certa cristalização da visão de mundo por falta da inserção prática do
ser humano na realidade que o está condicionando. Ou seja, as situaçõeslimites
que desafiam o potencial de realização de uma existência mais livre,
consciente e responsável pela sua história, não poderão ser transpostas na
teoria apenas. É a práxis transformadora da realidade, como construção
dialética do mundo e dos próprios sujeitos (pessoas humanas) que caracteriza