30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CONDICIONADO/DETERMINADO

Jaime José Zitkoski

Freire (1994, 1997) concebe que, mesmo não sendo determinados, somos

seres humanos condicionados pelo contexto histórico sociocultural onde

vivemos. Mas o potencial da existência humana está em ter consciência de

seus condicionamentos, pois, a partir de sua visão crítica sobre o mundo,

poderá enfrentar as situações limites, superando-as através da luta solidária e

coletiva pela transformação das realidades condicionantes.

O ser condicionado na natureza humana expressa a historicidade da

existência concreta das pessoas em sua vida, sempre situadas no tempo e no

espaço com todas as variações socioculturais que essa situação concretiza.

Mas, a partir dos condicionantes históricos e das transposições desses pela

práxis transformadora, os seres humanos vão construindo-se como seres

abertos, dialéticos e fazedores de si mesmos.

A luta pela superação das situações-limites em que nos encontramos

envolvidos em nosso mundo histórico-cultural é a razão de ser da nossa

existência e o impulso prático que nos humanizamos como seres capazes de

conquistar mais liberdade (FREIRE 1993) e construir permanentemente novos

sentidos existenciais para a convivência no mundo. Essa é a grande diferença

que Freire aponta entre as concepções deterministas e/ou mecanicistas da

natureza humana e da vida em sociedade, e a concepção radicalmente

dialética e dialógica, que nos confere uma capacidade ético-política única de

nossa espécie em poder intervir no mundo.

O depoimento de Freire é profundamente revelador desse sentido original

de conceber a existência humana:

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado

mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é

a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A

diferença entre o inacabamento que não se sabe como tal e o

inacabamento que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de

saber-se inacabado. (Freire, 1997, p. 59)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!