Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
seja, o movimento ação-reflexão-ação. É significativo que, desde as primeirasexperiências como educador, ainda no SESI de Pernambuco, Paulo Freirepensasse a educação de jovens e adultos a partir dos problemas vividos poresses jovens e adultos e orientasse sua prática no sentido de tomá-los como“situações de aprendizagem”. Ou seja: compreender e fazer compreender asraízes desses problemas, na crítica a uma sociedade injusta e a um sistemaeconômico-social excludente. Daí a valorização do “saber de experiênciafeito” para, refletindo sobre ele, criticando-o, ampliando-o, entender arealidade para transformá-la.Em toda a obra de Paulo Freire está presente, também, a categoriaesperança: o homem pode mudar o mundo; o homem faz a história. Élimitado, contingenciado pelas condições concretas da realidade, mas não édeterminado por elas. Pode, e deve, mudar o mundo, com sua inteligência ecom sua ação. Por sua vez, a educação é, ou deve ser, instrumento dessa ação,na medida em que possibilita ao homem tomar consciência da realidade emque vive e, em consequência, agir para transformá-la, para a construção deuma sociedade justa e fraterna.Decorre daqui a categoria conscientização, utilizada por Paulo Freire epelos participantes da maioria dos movimentos de cultura e educação populardo início dos anos 1960. Mas a educação não se restringe ao ensino escolar,muito menos ao treinamento profissional. Trata-se da formação do homem,considerado como ser inacabado, em permanente processo de autoformação.Nesse processo, é fundamental partir da cultura, entendida como conjuntode significações e representações de um modo de viver, confrontado comoutros modos de viver. Nos anos 1960, a “descoberta” da cultura e da culturapopular foram fundantes de todas as experiências realizadas. Coube a PauloFreire e sua equipe no Serviço de Extensão Cultural, da então Universidadedo Recife, com base no conceito antropológico de cultura, criar as famosas“fichas de cultura”, que inauguraram o sistema de alfabetização de adultos,no caso brasileiro, e o sistema psicossocial, no caso chileno. A partir dessasistematização, Paulo Freire elaborou, ainda nos início dos mesmos anos1960, uma nova concepção de educação de adultos, com ampla aceitação pelamaioria dos movimentos de educação e cultura popular, e lançou as basespara uma nova concepção geral de educação.Outra categoria fundamental na pedagogia freiriana, desde a experiênciados “círculos de cultura” adotados no sistema de alfabetização de adultos,
presente em toda ação cultural e educativa, é o diálogo: ninguém educaninguém; os homens (e as mulheres, dirá Paulo Freire depois) educam-senuma relação dialógica, de saberes e afetos. O diálogo viabilizametodologicamente o movimento da práxis: partir do vivido e do sabido,discutí-los, criticá-los, ampliá-los, não só para mudar a visão de mundo, mastransformá-lo.A partir dessas categorias fundamentais, recoloca-se a função política daeducação, assim como a competência técnica e o compromisso político doeducador, cuja ação deve ser fundamentalmente ética, no respeito aoeducando, que é também educador, e na coerência de sua ação. Esseselementos definem uma nova pedagogia, a pedagogia de Paulo Freire; ou,como diz Agostinho Reis Monteiro, uma pedagogia como concepção geralde educação.O fundamento antropológico de sua pedagogia é o ser humano como serinacabado e de comunicação, e a sua vocação para ser mais. Por isso, oamor e a esperança são uma necessidade ontológica. Mas a história é umapossibilidade que se realiza num cenário de politicidade, onde éimpossível a neutralidade. Por consequência, a educação éfundamentalmente uma questão e uma forma de poder, cuja legitimidadedeve ser problematizada. Daí a centralidade da eticidade da educação.4Em síntese, a pedagogia de Paulo Freire é revolucionária; é um resgate dosentido da utopia. E é exatamente sua dimensão ética que lhe confere intensaatualidade e distinguida importância. Em termos radicais, como diz o mesmoAgostinho Reis Monteiro, é uma pedagogia do direito à educação. Por isso apermanência de sua obra e de seu pensamento; por isso, a atualidade de suapedagogia.Referências: FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1976; FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. Recife: Edição do autor, 1959.Republicado por Cortez Editora e Instituto Paulo Freire, em 2001; FREIRE, Paulo. Educação comoprática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967; FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970 (ICIRA, Santiago do Chile, 1969); FREIRE, Paulo. Pedagogia daautonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996; FREIRE,Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1992; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000; FREIRE, Paulo.Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
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seja, o movimento ação-reflexão-ação. É significativo que, desde as primeiras
experiências como educador, ainda no SESI de Pernambuco, Paulo Freire
pensasse a educação de jovens e adultos a partir dos problemas vividos por
esses jovens e adultos e orientasse sua prática no sentido de tomá-los como
“situações de aprendizagem”. Ou seja: compreender e fazer compreender as
raízes desses problemas, na crítica a uma sociedade injusta e a um sistema
econômico-social excludente. Daí a valorização do “saber de experiência
feito” para, refletindo sobre ele, criticando-o, ampliando-o, entender a
realidade para transformá-la.
Em toda a obra de Paulo Freire está presente, também, a categoria
esperança: o homem pode mudar o mundo; o homem faz a história. É
limitado, contingenciado pelas condições concretas da realidade, mas não é
determinado por elas. Pode, e deve, mudar o mundo, com sua inteligência e
com sua ação. Por sua vez, a educação é, ou deve ser, instrumento dessa ação,
na medida em que possibilita ao homem tomar consciência da realidade em
que vive e, em consequência, agir para transformá-la, para a construção de
uma sociedade justa e fraterna.
Decorre daqui a categoria conscientização, utilizada por Paulo Freire e
pelos participantes da maioria dos movimentos de cultura e educação popular
do início dos anos 1960. Mas a educação não se restringe ao ensino escolar,
muito menos ao treinamento profissional. Trata-se da formação do homem,
considerado como ser inacabado, em permanente processo de autoformação.
Nesse processo, é fundamental partir da cultura, entendida como conjunto
de significações e representações de um modo de viver, confrontado com
outros modos de viver. Nos anos 1960, a “descoberta” da cultura e da cultura
popular foram fundantes de todas as experiências realizadas. Coube a Paulo
Freire e sua equipe no Serviço de Extensão Cultural, da então Universidade
do Recife, com base no conceito antropológico de cultura, criar as famosas
“fichas de cultura”, que inauguraram o sistema de alfabetização de adultos,
no caso brasileiro, e o sistema psicossocial, no caso chileno. A partir dessa
sistematização, Paulo Freire elaborou, ainda nos início dos mesmos anos
1960, uma nova concepção de educação de adultos, com ampla aceitação pela
maioria dos movimentos de educação e cultura popular, e lançou as bases
para uma nova concepção geral de educação.
Outra categoria fundamental na pedagogia freiriana, desde a experiência
dos “círculos de cultura” adotados no sistema de alfabetização de adultos,