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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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CLASSE SOCIAL

Avelino da Rosa Oliveira

As classes sociais, na visão freiriana, são grupos sociais entendidos

fundamentalmente por sua posição no processo geral de opressão. Nas

sociedades terceiro-mundistas, o antagonismo de classe opõe

irreconciliavelmente oprimidos e opressores, ou seja, engendra a relação de

oposição dialética “entre os que compram e os que são obrigados a vender o

seu trabalho” (FREIRE, 2002, p. 140).

O conceito de classe social, associado à luta de libertação dos oprimidos,

é presença constante ao longo de toda a obra de Freire. Poderia significar um

abandono gradual do conceito em suas obras do último período, o fato de o

termo estar presente 257 vezes em Ação cultural para a liberdade, enquanto

é empregado apenas 21 vezes na Pedagogia da autonomia; no entanto, é mais

correto observar que na Pedagogia do oprimido o termo é utilizado 61 vezes,

enquanto na Pedagogia da esperança, escrita como retomada de suas

principais teses após quase um quarto de século, o conceito de classe social

está presente 172 vezes. Não é sem razão, portanto, que, na reaproximação de

sua magnum opus, Freire tenha afirmado categoricamente jamais ter

abandonado este conceito basilar de sua obra educacional. “Falei ontem de

classes sociais com a mesma independência e consciência do acerto com que

delas falo hoje” (FREIRE, 1999, p. 90). De fato, ainda neste período, Freire

afirma ser impossível compreender a história sem recorrer ao conceito de

classe social e sem tomar em consideração a indisfarçável luta entre seus

interesses antagônicos. Rejeitando o esquematismo inaceitável de que a luta

de classes é capaz de, por si só, tudo explicar, não deixa de reconhecer que

ela “não é o motor da história, mas certamente é um deles” (p. 91).

A educação não pode ser vista fora dos marcos da sociedade de classes.

Aí, é evidente que a humanização e libertação são impossíveis na medida em

que a relação de opressão impossibilita que as duas classes efetivem sua

vocação. Mas nem mesmo o desenvolvimento integral é viável na sociedade

de classes, posto que ela tem seu fundamento na exploração, tanto das

sociedades metropolitanas em relação às periféricas, quanto das classes

dominantes em relação às dominadas. “Neste sentido é que desenvolvimento

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